segunda-feira, 24 de junho de 2013

Rascunho de considerações sobre a manifestação pelo Passe Livre de 20 de Junho em João Pessoa Paraíba.

Gostaria de fazer algumas considerações muito rápidas e até apressadas sobre a manifestação em João Pessoa.
Estou ficando realmente incomodado com algumas reações que vejo no facebook de diversos setores às manifestações. Estou impressionado ao reducionismo de uns e, principalmente, aos críticos de esquerda sem atividade política que se levam pela mera reprodução do que dizem por aí dos eventos que provavelmente sequer acompanharam enquanto passeata.
Tivemos uma reunião com cerca de 80 pessoas onde deliberamos muitas coisas, e dessas deliberações houve uma linha política para a manifestação. Todos poderiam avaliar se ela foi equivocada ou não, a posteriori, mas seria interessante também uma auto avaliação dos indivíduos e dos grupos de esquerda em como agiram lá (ou se não agiram antes). Muitas pessoas optaram por não participar dessa reunião e, após isso, é muito fácil sair criticando e, pior ainda, tentar mudar uma linha política que foi decidida democraticamente.
Os esquerdas de plantão não fizeram, pelo que vi, a devida auto crítica sobre sua atuação no processo. Dentre eles há dois grupos: os que participaram do início e aqueles que a posteriori chegam cheios de razão. Suas críticas são válidas é bom deixar isso claro. É inegável. Porém, chegam com aquela prepotência tão cara ao seu ego e aos paradigmas pelos quais muitos ainda acham que só existe uma maneira de ler a realidade. Em pleno século XXI às vezes parece que muito da produção de conhecimento não chegou a algumas dessas instituições. Felizmente, fica claro que isso não é generalizado e que muitos da esquerda começam a fazer algumas reflexões para sua prática e para algo que pode ser diferente do que estão acostumados.
Há também os esquerdistas de gabinete. Não participam de nenhuma ação política, nem da construção, mas acham que olhando um processo apenas por fora podem dizer o que ele é, sem ao menos entender os processos de construção. Esses são os piores. Críticos de facebook, sequer conseguem sair do facebook como alguns "reaças", "direitistas" e "fascistas" que acusam ao menos tiveram a coragem de fazer.
Por falar em reaças, direitistas e fascistas fico impressionado com a capacidade de muitos de ler tão rapidamente um evento tão novo no país. Parece não haver dúvidas! Todos estão certos e claros com que tipo de processo estamos lidando. Assim emerge uma luta contra os fascistas porque nacionalismo agora virou sinônimo de fascistas. Isso muito embora a própria esquerda seja extremamente marcada por um sentimento de nacionalismo, como se não houvesse grupos na própria esquerda que buscassem alcançar seus objetivos políticos a partir da construção de  identidades sejam nacionais ou latino americanas.
O apartidarismo também vira sinônimo de fascismo. Outro equívoco. Mas, isso é natural, pois muitos desses pensadores pareciam ignorar que a população é plural. Sempre acreditaram que falavam em nome do povo, povo que nunca se preocuparam em consultar. Quando o "povo" vai às ruas em sua diversidade, pluralidade, que inclui também conservadorismo, os espantam e por isso eles resolvem dizer que são manipulados, alienados, ignorantes, dominados pela direita, etc. Mas, na verdade, sua prática política pouco conseguiu superar, ainda, a discussão do que é exatamente um "povo" ou utilizar uma melhor categoria.
Não acho que o nacionalismo dessas manifestações e o apartidarismo sejam referentes necessariamente a uma atitude fascista. mas me espanta a clareza que muitos já concluíram  isso. Acho triste.
Mata-se um movimento que começa. O homem que levanta pra ir às ruas com suas bandeiras se abre pra protestar, pra dialogar, para lutar. Ao mesmo tempo, nessa luta, as contradições de nosso sistema geram uma situação extremamente delicada na qual uma concepção mais comum de partido - que se refere aos partidos que disputam o poder do estado burguês - faz entrar em  choque organizações partidárias que estiveram ao lado de lutas "progressistas" e a população que vai às ruas manifestar. Essa população está ligada, realmente, a uma propagada midiática e desconhece muito da história dos partidos de seu país, o que contribui para terem atitudes extremamente hostis a eles. Esse desconhecimento é uma parte. Por outro lado, os partidos realmente representam uma violência que a "massa" sofre todos os dias: a violência do Estado Burguês, e é contra essa violência que confusos eles também se debatem. Há outra questão, o discurso da esquerda há muito não dialoga com tais setores urbanos que foram às ruas. Isso também os faz rejeitar tais partidos. A reação da esquerda em apontar-lhes como fascistas também não ajudará em nada. Apenas os oporá a pessoas que poderiam ser novos agentes nas mudanças do país. As esquerdas continuam pensando a partir de seus grupos e paradigmas e mal conseguem dialogar com esse movimento. A esquerda também é responsável por essa ausência de diálogo, não cabe apenas chamá-los de alienados por não ouvir sua voz iluminada. Mas, em vez de reconhecer suas limitações, preferem colocá-lo como inimigo.
Não vejo a esquerda discutir que, talvez, o estado brasileiro pudesse sofrer reformas substanciais na forma de organização que ampliasse a democracia, que talvez aparasse algumas questões da democracia representativa. Isto não lhes interessa, não está nos seus moldes de pensar no momento.
Nesse sentido, deixam esse movimento mais disponível para a direita tentar conseguir a direção ou ao menos se utilizar dele para conseguir retroceder avanços progressistas que tivemos nos últimos anos.
Há claro, o grupo dos "democracia a qualquer custo", "salvemos o PT a qualquer custo" que só faltam propor que a gente oprima mesmo as manifestações para não haver um golpe de direita (que acho sim uma possibilidade). Fico pensando quando então instigaremos a população a participar da vida política, pois se ir às ruas protestar levar ao perigo de um golpe, é sempre melhor estar a reboque, permanecer nessa situação estrutural de Estado que temos.

Acho tudo apressado demais. Acho que alguém, PT ou as esquerdas, teriam muito a aprender ouvindo essa massa. Mas isso não lhes interessa ao que parece. Talvez essa massa tenha que se articular e propor algo novo e, realmente, separar dentro de si o que há de conservador e progressista.

São apenas indicações. Espero que o tempo delineie melhor e que atitudes precipitadas não matem algo que pode ser muito positivo.