quarta-feira, 3 de julho de 2013

A chuva

As águas sugerem um caminho leve para as coisas desse mundo.
A correnteza carrega folhas, gravetos e até lembranças vêm e seguem nesse fluxo. Encalhados, no entanto, permanecem meus pés, fixos, ignorando essa força.
Cabelos e pele encharcados resistem ao líquido que me tenta embebedar.
Do céu, gostas querem me dissolver, mas meu corpo permite apenas que escorram sobre mim sem tomar parte nessa fluidez. As gotas se contentam em acariciar-me.

De dentro de algum lugar seco e solitário, vejo a chuva que pede entrada: seu som chega aos meus ouvidos, seu frio úmido me envolve, suas lágrimas correm pela janela colorida.
Como nunca sei se acho esse evento triste ou alegre, procuro abrigo. E perante seu chamar fico entre deixá-la ou não entrar.
Quando criança bastava seu anúncio para correr pelas ruas e me banhar de seu carinho.
Hoje, as cobertas me esquentam.

Chuva é riso que molha o solo e permite tudo florescer.
Seres humanos, adultos, não sabem seu lugar na chuva ou no sol, e os deixam para as plantas.
Adultos chovem salgado por algo que morre.
Ela ri e como se fôssemos flores nos rega.
A chuva é criança.

Retribuiria tanto amor se não tivesse tanto medo de tanto molhar.