sábado, 16 de abril de 2011

Correio Verdade - Palhaçadas da Mídia Brasileiro-paraibana

Recebi no e-mail remetido pelo Prof. José Jonas Duarte (Deparamento de História/UFPB).

Uma boa reflexão para nós paraibano-brasileiros/as ...

"A TV paraibana nunca foi tão ridicularizada. As mortes transmitidas das 12 às 13h, que já era prato principal do almoço de muitos paraibanos "vidrados" no correio verdade agora estão do jeito que o jornalismo imprudente sempre sonhou: as pessoas riem da desgraça alheia e a bandidagem ainda vira melô, hit musical...
Pois é, as novas celebridades do jornalismo local não são reconhecidos por seu trabalho sério e competente em informar...não são visto pelo Brasil como repórteres que elevam a Paraíba...são reconhecidos em toda a parte, mas, como o próprio Portal Correio anunciou em 2010, " Agora, toda a Paraíba vai ver e conhecer a força, a alegria e a irreverência de Samuca Duarte e Emerson Machado." É mesmo uma pena que estivessem falando de um programa policial...
Sucesso no you tube, orkut e afins, a "dança do mofi" é unanimidade: agrada tanto aos cidadãos de bem quanto aos bandidos. As crianças, incentivadas até mesmo pelos pais, colocam a camisa na cabeça e com os braços para trás dançam e aumentam a popularidade do jornalismo que todas as tardes ri da falta de consciência de uma população que já acostumada com a impunidade, resolveu aceitar que ela virasse piada.
Tratados como "amigos" (já que são a audiencia), os criminosos até gostam das brincadeiras, afinal de contas, nem é assim tão grave o que eles fazem...

...

Para mim, parecia que já tinham usado e abusado de todas as armas do sensacionalismo, mas mostraram que não: no dia 31 de março o telejornal foi transmitido em pleno Mercado Público de Mangabeira, e é claro, com direito a palco e plateia.
A cada notícia de mais uma entrada no Hospital de Emergência e Trauma ou de uma briga em bar que acabava em morte, uma música era tocada pela banda que estava participando do Caravana da Verdade. Lágrimas, perdas e outras tristezas que merecem respeito (seja por quem for), viraram show. Um show desejado e aclamado por muitos telespectadores. Ah, a ideia contraditória e doentia da contratação da banda foi anunciada no prórpio Portal Correio, com as seguintes palavras:" A Banda Identidade Baiana realizará um show para animar ainda mais o evento, das 11h às 14h."
Samuka Duarte, Emerson Machado ( Mô- fi), Marcos Antonio (O Àguia), Josenildo Gonçalves (O Cancão da Madrugada) e toda a equipe de edição do Correio Verdade conseguem, dia após dia, tornar animadas as refeições de paraibanos que não se importam em almoçar frente às cenas de corpos perfurados e poças de sangue humano. Creio que não conseguem, com a mesma eficácia, tornar menos dolorosa a sina de uma mãe que sente a dor de ter um filho que agora é presidiário, de parentes de uma criança que morreu acidentalmente ou de um pai, que vê seu filho destruído pelas drogas, morto e servindo de audiência para um programa de humor negro chamado Correio Verdade.
Não sou jornalista. Sou nutricionista, mas antes disso, cidadã. Incomodada com o desprezo explícito à vida humana senti a obrigação de pedir a todos os meus contatos que repensem seus valores de respeito e dignidade à vida sempre que pensem em assistir esse e outros programas que indiquem sinais tão fortes de insulto a nós, telespectadores. Insulto a nossa capacidade e direito de exigir jornalismo de qualidade em palavras e atitudes.
Se concorda, repasse o email. Quanto mais as pessoas se conscientizarem dos "pequenos" males que nos envolvem com graça e alguns risos com gosto de sangue, mais chance teremos de exercer e usufruir daquilo que chamamos de cidadania. Merecemos mais respeito."

Texto de Elaine Oliveira.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

C'est la vie.

Voamos como o vento que sopra rumo ao horizonte até desaparecermo-nos dos outros, às vezes até de nós mesmos. Desencontros e encontros. A terra gira indiferente.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Cultura política e breves reflexões sobre a esquerda brasileira

Texto escrito há muito para postar no blog. Mas com a correria dos estudos, nem me organizei para postar, mesmo com dois meses de atraso - e agora revisado - aí vai:

26/02/11


Ouvindo: A Banda – Chico Buarque


Sábado. Comecei o dia na abertura do Carnaval de João Pessoa, com direito a muito frevo, axé e, principalmente, Alceu Valença, cuja performance me fez esquecer de todo o cansaço de uma sexta-feira fatídica e dançar, cirandar e seguir o trio até às 2h da manhã, na bela Lagoa no centro de nossa cidade. Fico pensando o quão podemos ficar orgulhosos de nosso vasto país: temos artistas fantásticos capazes de nos emocionar, animar, rir, chorar. Brasil: apesar das desigualdades, ainda criadouro de arte e humanidade.

Deixando de lado toda essa ladainha piegas, falarei do real tema do texto: li um texto publicado na revista de “Estudos Históricos e Sociais” Fênix. O texto é do Professor e Pesquisador Alcides Freire Ramos da UFU e seu título é A luta contra a ditadura militar e o papel dos intelectuais de esquerda.

O tema de cultura política me interessou muito. Aborda-se o contexto pós 1964, quando a esquerda entrou em um grande período de auto-avaliação. A partir daí o Alcides Freire analisou como tais organizações se relacionaram com os terríveis rumos políticos tomados pelo nosso país e seu papel nesse processo. Assim, a esquerda identifica suas debilidades com ilusões e comportamentos “pequeno-burgueses” em seus quadros. Essa atitude está presente nos textos do PCB e outras frações dele, inclusive naquelas que adotaram a luta armada como saída política para a situação sufocante da ditadura militar brasileira.

O tema já me interessa um bocado, mas para além da questão de compreender um momento histórico, chamou-me a atenção para alguns indícios que permanecem muito presentes nas práticas e discursos políticos dos partidos de esquerda hoje. Não à toa, a todo momento o texto me remetia às experiências no Movimento Estudantil quando convivi, principalmente, com militantes do PSTU e Consulta Popular. Já achava alguns conceitos estranhos e um tanto inconsistentes – não os digo que são por si só, mas em como eram utilizados, ou seja, na sua função prática, no cotidiano político – e, assim, o tema se tornou mais curioso ainda. Lembrava a todo tempo as palavras de ex-companheiros de Centro Acadêmico ou militância dizendo – muitas vezes taxando – todo tipo de ação, ideias ou comportamentos como “pequenos-burgueses”, como uma maneira de deslegitimar práticas e ideias através da associação deles ao crime do fantasma do desvio de classe, ou melhor, de identidade de classe.

Parece-me, agora, mais tentadora a História Cultural que antes, ainda mais quando pode ser aplicada assim a temas políticos. Dessa forma, fico a todo momento pensando na ideia de Chartier que propõe a análise dos textos de uma sociedade a partir da tríade representação, prática e apropriação. OK, Não é a ideia deste texto esgotar ou analisar tal questão: isso requeria muito mais leituras, é mais um indicativo de reflexões que fiz durante minha atuação política e que agora estas leituras – do Chartier e do texto do Alcides Freire – tornam algumas coisas mais claras e curiosas.

Assim, fico pensando em como o marxismo – e isso certamente vale para outras teorias – é apropriado de forma diversificada por diversos intelectuais e que tais apropriações nem sempre correspondem as leituras que os militantes acreditam conhecer. Podemos falar em marxismos, embora muitos, mesmo na universidade e no movimento, insistam em tratar como algo único, partindo de certas noções de senso comum que o relacionam ao marxismo clássico da Europa oriental que está longe de ser a única abordagem da teoria marxista. Daí desse problema de formação e das práticas políticas há outro abismo: nem sempre esse "conhecimento" - como um fenômeno dado na prática, não da real compreensão de uma ideia tal qual é colocada por um autor - leva a uma prática realmente coerente com idéias marxistas, uma espécie de interrelação entre conhecimento e (des)conhecimento; ou, às vezes, compreensões claras, mas de teorias não mais interessantes levam a práticas desinteressantes.

Assim, surgem os fantasmas da “identidade pequeno-burguesa”, “peleguismo”, etc, que em vez de explicar ou guiar satisfatoriamente as ações políticas, mais maquilam outros preconceitos como racismo, machismo, dentre outros. Esse fenômeno que descrevo está relacionado a um tipo de prática no Movimento estudantil (caracterizado por uma "pequena burguesia" se utilizarmos o marxismo clássico), mas que acredito que se lança mão de tais conceitos, muitas vezes, os distorcendo e, a partir daí, relacionando-os a preconceitos e justificações de querelas políticas menores para legitimar ou deslegitimar práticas políticas opositoras.

No artigo da Fênix fica claro o impacto psicológico e social que tinham tais noções dentro das organizações de esquerda da segunda metade da década de 1960: pressões, confusões e, frente às péssimas condições político-estruturais que elas enfrentavam, muitas vezes culminando em atitudes suicidas. Obviamente não seria justo atribuir tais comportamentos tão somente à tais linhas políticas, mas também identificar que a truculenta repressão do período era o cenário para tais acontecimentos, o motor de tais conjunturas tão radicais.

O que quero chamar a atenção, é a criação desse "demônio", desse intruso, desse ente, que atrapalha e desorganiza as ações políticas. Em outro texto sobre a União Soviética, essa exaltação de uma cientificidade do marxismo que caía em certo cientifismo da época, culminou por ser prejudicial às relações políticas dali, dificultando, inclusive, as vias democrática internas dos bolcheviques.

O texto pode parecer um tanto quanto briguento demais - e confuso sem ser confrontado com o texto do Alcides Freire -, mas, para além das críticas à esquerda, continuo acreditando na maioria de seus valores. Mas, ao mesmo tempo, vejo o quão somos incipientes em matéria de política e a necessidade de avançarmos mais e mais na construção de um novo modelo de sociedade – algo extremamente necessário, permaneço acreditando. Até mesmo porque tais resoluções “radicais” ou “inconsistentes” não são simplesmente crias partidárias, mas de homens e mulheres que discutiram coletivamente e que escolheram dedicar suas vidas à criação de um mundo melhor. Foram tais homens e mulheres que foram trucidados na ditadura militar, não apenas vítimas lastimáveis de um regime violento, mas porque preferiram enfrentar quando muitos acovardar-se-iam. Essa é a história de nossa esquerda: erros, acertos, dores, feridas, risadas e muita coragem.


Procurem o texto!