segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Cinema Noir - O Crepúsculo dos Deuses

No CINEFAGIA estamos prestes a começar o estudo do Cinema Noir. Acabamos de estudar o gênero hollywoodiano Western e tem sido uma experiência gratificante conhecer tais momentos da história do cinema.

Assim, hoje assisti com amigos a Boulevard Sunset (O Crespúsculo dos Deuses, 1950), excelente filme em diversos sentidos, especialmente para compreender o que é Hollywood e sua máquina social cinematográfica no que se refere aos atores. Além disso, o filme problematiza a passagem do cinema mudo para o cinema sonoro e como isso gerou transtornos para atores, especialmente aquelas grandes estrelas cujo ego foi explorado até as últimas conseqüências por uma indústria insaciável.

O filme aborda a estranha relação entre Norma Desmond, uma esquecida estrela de cinema do cinema mudo, e Joe Gilli, um frustrado e pobre aspirante a roteirista de cinema. Gilli se encontra com problemas financeiros quando acaba chegando a casa de Norma. Ali, aproveita-se da decadente situação de uma rica e velha atriz de cinema que sonha com seu retorno aos holofotes de Hollywood através de um roteiro que escreve há 30 anos, para fazer algum dinheiro. Aos poucos a relação dos dois começa a se alterar, configurando-se numa prisão para Gilli e num paixão autodestrutiva de Norma pelo jovem rapaz. Porém, como não poderia deixar de ser, mistérios envolvem outros personagens, como o estranho mordomo Max Von Mayerling e a Betty Schaefer uma ambiciosa leitora que também quer escrever artigos com a ajuda do cativo Gillis., toda essa salada de intenções e ambições culmina em um desfecho trágico que o espectador conhece desde o primeiro momento do filme que se desenrola narrado pelo defunto Gillis.

A fantástica atuação de Gloria Swanson cuja atuação expressiva e estranha ao formato teatral cinematográfico contemporâneo ao filme contrasta com as demais atuações dos jovens atores. Esse contraste oferece uma boa visão do que foi mudança do cinema mudo para o falado, e como isso gerou dificuldades para os atores consagrados. A própria atriz que faz Norma passou por essa mudança, embora tenha conseguido manter-se atuando, ao contrário de diversos atores que terminaram por perder seus empregos.

Enfim, o filme é uma obra excelente e não é à toa que consta das mais diversas listas de filmes essenciais em revistas e sítios de cinema.
A seguir, algumas cenas de filmes noir que assisti e bem importantes para o cinema também: Gilda e Uma Rua Chamada Pecado.

Gilda (Charles Vidor, 1946)


A Street Car Named Desire (Elia Kazan, 1951)


Sunset Boulevard (Billy Wilder, 1950)

sábado, 2 de outubro de 2010

the brilliant green~~ goodbye and good luck [HD]

É um pouco como me sinto hoje. A música é bonita, não é apenas uma questão de se identificar com a situação da letra... Realmente gosto dessa banda e dessa performance em especial.
Mas, ao mesmo tempo, também sinto com se fosse nevar, numa noite gelada de inverno, também olho para trás, para os bons momentos e sinto medo do que virá...

Not feeling so good these times.. =(

(há o link para a tradução da letra no final da postagem)



Goodbye and Good Luck

It's likely to snow tonight
I gazed out of the window
"Goodbye and good luck my friend"

She said to me "Will you come/"
I didn't know whether to stay or go
I wish I could be there someday

Yes I think it's all right
She'll make out fine with no mistakes

Looking back on the good old days
We had a long talk about it
We were awake through the night oh yeah

I'll miss you very much if you move
I want to go there with you
My dream will come true someday

Yes I think it's all right
She'll make out fine with no mistakes

I wonder if it will be fine
Will be fine tomorrow
In the cold winter night I say

Goodbye and good luck to you yeah
I wish to go there
Oh see you again

I thought of the happy days
When I was in our dream
Yeah see you again
The snow whispers down wo yeah

Fall went quickly and X'mas
Come too soon It's time you went
I wish you good luck my friend

Looking back on the good old days
I cried till my eyes dried
I'm going to miss you

Yes I think it's all right
She'll make out fine with no mistakes

I wonder if it will be fine
Will be fine tomorrow
In the cold winter night, I say

Goodbye and good luck to you yeah
I wish to go there
Oh see you again

I thought of the happy days
When I was in our dream
Yeah see you again
The snow whispers down wo yeah

Say "Goodbye and good luck"
I'm with you all the way
Oh see you again

I thought of the happy days
When I was in our dream
Yeah see you again
The snow whispers down wo yeah

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Democracia e Crise

Lendo sobre Brasil Império me surgiu uma dúvida: uma democracia deve ser estável? Se Bonifácio que defendia uma monarquia constitucional nos meados do século XIX, acreditava que sem a monarquia não haveria liberdade e estabilidade, será que ele estava completamente errado?
De certa forma, pensarmos em uma democracia não implicaria certa instabilidade, fruto das disputas entre setores sociais e o embate constante que deveria caracterizar uma democracia real que sustentasse um espaço político de efetiva participação daqueles que compõe tal sociedade? Assim, não seria a crise, ou tendências a crise, uma característica (em devidas proporções) das sociedades democráticas?
Não se trata aqui de fazer uma defesa de regimes autoritários e não democráticos, mas, pelo contrário, de perceber que esse embate e crise são necessários e devem ser estimulados para que os processos de mudança político-social continuem a se constituir indefinidamente.
Não seria essa a lógica de uma democracia, não estaríamos em muito ainda presos a uma idéia de estabilidade que talvez seja incompatível com a idéia de democracia?

Talvez, uma pista para compreender isso seja o estudo da economia política, uma vez que quando pensamos em crise e na maioria de momentos históricos desde a constituição da sociedade moderna, a instabilidade política reflete em instabilidade econômica e, conseqüentemente, perdas econômicas especialmente para as elites que dominam, característica inerente às sociedades capitalistas.
Dessa forma a instabilidade política significa prejuízo, perda de lucro. Obviamente não podemos resumir os momentos de crise a apenas um prejuízo às elites, visto que setores médios e populares também perdem e sofrem com o evento, porém, usualmente, quando ouvimos na mídia e outros interessados na manutenção do interesses de tais setores - produzindo vasta literatura jornalística ou acadêmica sobre o assunto - relacionam em geral a crise a tais perdas de possibilidades de lucro ao que de fato estão interessados.
Em síntese, quero chamar a atenção que para sociedades em que a estabilidade econômica está no cerne das preocupações para a manutenção do lucro, tenta-se transpor tal idéia como algo universal - inválido de fato, visto que esses momentos podem gerar mudanças para outras formas organizacionais (chegando ao outros modos de produção) o que tentam combater - e que se relaciona muito mais com uma preocupação econômico-privada, chocando-se inevitavelmente com a lógica de uma sociedade democrática.

Obviamente esse combate à crise econômica está ligado muito mais ao espaço econômico-político de atuação de tal elite, uma vez que para um grupo uma crise econômica pode ser interessante quando representa oportunidade de alcance de um maior mercado - quebra concorrentes, países onde matérias e mão-de-obra se tornam mais baratos. A sociedade capitalista também se utiliza, assim, das crises para alcançar o êxtase de seu laissez-faire, todavia, não suporta que essas crises levem ao questionamento de sua própria estrutura, enquanto sistema econômico capaz de traduzir-se meio de ampla satisfação das necessidades humanas.

A democracia se mostrou interessante para esses setores quando representou oportunidade de chegarem ao poder em espaços antes limitados a outros grupos, sejam de outros interesses capitalistas, ou no caso do Brasil Império, da corte portuguesa. Assim como no Brasil momentos de lutas democráticas representou, na verdade, uma ascensão de uma elite interessada em outro tipo de política econômica mais voltada para a indústria (Revolução de 1930), mas que pode ser invertida quando em outros momentos utiliza-se da própria via anti-democrática (ditadura militar de 1964) para manutenção de seus interesses, e que a descarta quando não lhes mais interessa - Redemocratização de 1980.

Evidentemente não podemos restringir esses momentos de passagem histórica a tais estruturas, eles representam uma dinâmica mais ampla que diversos outros atores sociais interagem, porém podemos procurar diagnosticar a performance de certa elite durante tais processos e sua relação com o idéia de Democracia.

Democracia significaria certa crise e não seria ela do nosso interesse? Uma sociedade alternativa a sociedade capitalista que se paute a conservar liberdades individuais e políticas através da democracia deve compreender que esse espaço de questionamento e crise precisa ser preservado.

Liberdade real, não a liberdade proporcionalmente imaginária em prática e discurso de uma sociedade capitalista na qual a liberdade de consumo se apresenta enquanto liberdade e emancipação pessoal, na mesma medida em que excluí a maior parte da população daquilo que produz.

http://processosubjetivo.blogspot.com

PS: Céus, tanto estudo tem que servir para alguma coisa, tanto ler na universidade e não conseguir produzir algo concreto que seja nosso, a fim de expressar essas ânsias é angustiante. Trabalhar, militar, estudar, mas ser humano também! Arte e expressão tão em necessidade aqui... ¬¬
Não suporto essa coisa do "seja o homem que corre e faz de tudo", o homem moderno que tem que ser tudo e termina sendo nada e ainda por cima infeliz. Chega de cultivar a insatisfação como se isso proporcionasse caminhos de elevação individual, precisamos ser felizes!

domingo, 12 de setembro de 2010

69 - Praça da Luz / 69 - Luz Square



Esse final de semana voltei, finalmente, a ter maior contato com o Cinema... Vi alguns curtas através do excelente site PortaCurtas ( http://www.portacurtas.com.br/ ) - obrigado, Wagner, pela dica - e ao filme Equus que me atordoou um bocado, em uma discussão que problematiza as ciências psiquiátricas, a relação com o sagrado e as paixões humanas em um roteiro inusitado e complexo que nem me arrisco a descrever.

Quanto ao curta colocado, Praça 69, é um excelente documentário sobre prostitutas de meia idade... Vale muito a pena conferir!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Da deusa grega da caça

Ultimamente não são poucas minhas decepções com as relações político-afetivas no Movimento Estudantil. A racionalidade proveniente das relações políticas gera pessoas que elevam suas relações afetivas a uma dimensão negra e pegajosa.
Não suporto mais as pessoas que se entreolham por divergências políticas, enquanto não veem as confluências mais essenciais, especialmente a de serem todos seres humanos sujeitos a erros e vacilos. Ao contrário, vejo, na esquerda, uma desunião por métodos, enquanto não veêm que na essência, no principal são todos em geral partidários das mudanças sociais que defendem: o combate a opressão, sociedade realmente igualitária e democrática, isso tudo para que as pessoas possam ser mais felizes.

Bom, nesse cenário de frustração e decepção, olho a imagem da musa que mora na minha mente e sonhos há anos. Da pessoa que talvez tenha mais amado na vida, talvez pelo mesmo motivo de ter sido esse amor tão platônico em sua maior parte do tempo.
A vida nos separou e tentou a todo custo retirar esse gostar de meu peito, mas não consigo deixar de sentir tamanha ternura pela imagem amada.

Sinto que esse gostar é uma nostalgia que carece de explicação e que me remete a alguma coisa morna e carinhosa que nunca senti em outros braços que não os dela. Não sei direito, mas gera um misto de saudade, dor e de tranqüilidade que em um mundo de tanta sujeira, encontrei coisa tão bela!

Hoje assisti o último filme que saiu sobre Woodstock, e fiquei extasiado com a visão do que foi o sonho do movimento Hippie. Ao assistir tudo aquilo deu uma vontade de apenas... relaxar e ser feliz curtindo a presença dos semelhantes, dos amigos, da família, etc. Talvez por isso fiquei mais sensível aos apelos do passado.

Mas, o que queria expressar era essa gratidão, gratidão por esse sentimento bonito que essa lembrança me traz e que espero que mais que mera embrança, um dia possa transfigurar em abraço essa ternura.

No dia que a política conseguir abandonar uma falsa e suposta racionalidade completa, e entender essa dimensão doce e presente de nossa afetividade, quem sabe a gente consiga fazer movimentos sociais que se pautem humanos, pela sua mera humanidade, e não exclusivamente por suposta racionalidade...

=)

sábado, 14 de agosto de 2010

Just like it


And I'm too drunk so i can just do anything cuz i like it. And also speak english here... =D

domingo, 25 de julho de 2010

De olhos bem fechados - RASCUNHO DE UMA CRíTICA

Somos seres sociais e no desenvolvimento de nossa cultura, transformamos nossos atos mais banais em verdadeiros rituais cheios de significados, elevando elementos banais e cotidianos a um status simbólico.
Assim, uma simples cadeira passa da sua significação original-material imediata de um amontoado de madeira para um objeto com função - proporcionar conforto, descanso -, com espaço adequado e valores - bonita, velha, adequada para um ambiente, etc. Da mesma forma, essa significação ultrapassa as relações com aos objetos materiais, alcançando nossa relações sociais: atribuímos valores, funções e estabelecemos ritos - burocratizamos! - nossas relações pessoais, sociais, afetivas. Assim, um beijo no rosto ou na testa tẽm significados diferentes e momentos adequados - que podem ir além do simples desejo de fazê-lo. O sexo ganha uma dimensão boa, suja, proibida, liberada, a virgindade um momento de passagem de um processo de desenvolvimento físico e emocional, etc.

Nesse contexto de burocratização das relações, de valores e significações, símbolos e padrões, para não falar em neurose generalizada ou utilizar o conceito de sociedade do controle de Foucault ou Deleuze, temos a fantástica última obra cinematográfica de Stanley Kubrick: De Olhos Bem Fechados.

Eyes Wide Shut (1999) no original, direção do referido Kubrick, atuação fantástica de Nicole Kidman e Tom Cruise interpretando este Dr. William Harford - um bem sucedido médico americano - e aquela sua esposa , Alice Harford, uma mulher atraente e sensual, que vive uma vida comum e familiar com a filha do casal: Helena.

A partir desse panorama, desenvolve-se uma trama de sedução, ciúmes, mentiras e muitos revezes problematizando as relações familiares e de gênero em uma sociedade burguesas, na qual a aparência supera a essência, escravizando os indivíduos através de seus papéis sociais, ou seja, a já citada cultura e seus ritos tão caras ao nosso desenvolvimento, agora em um contexto de valores de vida burgueses e cada vez mais globalizados, assumem uma dimensão determinada, em que os ritos ganham uma dimensão tão importante, conseguindo suplantar - para o indivíduo - sua origem, sua necessidade real, havendo uma alienação das relações sociais, uma (des)significação dos ritos que agora cumprem um papel opressor ao indivíduo.

Assim, um casal bem sucedido (profissional e financeiramente) como aquele apresentado pelos protagonistas, assumem um estilo de vida onde seu casamento extrapola aquilo que deveria ser sua função inicial: a união de dois indivíduos que se amam, para uma relação de dependência que, na fala de um personagem, o grande sucesso do casamento é conseguir tornar a necessidade do outro uma necessidade individual.

Mas, essa crítica contundente e ácida não seria a mesma sem a direção surpreendente de Stanley Kubrick: ele consegue nos guiar e seduzir durante uma narrativa sensual, aterrorizante e inusitada que nos cativa, comove, assusta, aterroriza, a partir das situações mais inusitadas em episódios que ganham uma dimensão tão grande que extrapolam seu espaço narrativo, muito embora ao mesmo tempo sejam um elemento de uma narrativa maior que compõe uma mensagem que reúne desde um diálogo dramático entre o casal, tentativas de sedução em uma festa, perseguições, morte, rituais sexuais excêntricos e aterrorizantes, em uma crítica única aquilo que representa a família burguesa na nossa sociedade atual.

Ao voltarem de uma festa em que ambos passam por situações de sedução extra-conjugal, Alice e Wllliam tem uma discussão pesada e reveladora sobre seu casamento: Alice através da revelação de uma fantasia erótica do passado põe em cheque a idéia (representação) das mulheres machista de seu marido. William diz que o importante para as mulheres é a estabilidade e o lar, atribuindo o fato de nunca ter ciúmes de sua mulher a uma confiança fálica no seu papel masculino na relação. Alice ao revelar sua fantasia, mostra-se como uma mulher que deseja muito além do que a idéia limitada e machista do médico sobre as mulheres pode conceber, esmigalhando uma segurança de seu casamento que se baseava em uma relação de superioridade masculina a sua mulher (e toda as outras).
A partir daí, William sai de seu apartamento, a fim de ir visitar a família de um paciente seu recém-falecido, e vagueia pela cidade encontrando diversas mulheres nas mais diversas situações: todas são mais fortes e tem um papel ativo e preponderante que inferioriza o patético Dr. William: seja na forma de uma prostituta que oferece o corpo ao Doutor, mas em domínio de toda a situação, em um gozo não realizado pelo telefonema de Alice; de uma mulher que salva o médico de uma humilhação ou morte em uma estranho e inusitado ritual erótico, dentre outros.
O Dr. William termina por concluir seu itinerário de choques e conflitos que lhe escapam o domínio no quarto de sua esposa, chorando aos pés dela, contando tudo que passara, como um filho que corre para sua mãe. Se Nicole Kidman já contrasta desde o início com o Tom Cruise pela altura diferenciada e superior, a narrativa reafirma essa superioridade. Temos um ciclo de (re)conhecimento da não superioridade masculina e do desejo e força feminina que esmaga uma segurança masculina baseada em uma discriminação de gênero.
Ao final, ficando patente os papéis diferentes e de interesses antagônicos a relação institucionalizada pelo casal (o casamento), a conclusão é a permanência na relação, mantendo-se uma relação que se baseia na manutenção de uma instituição já falida.
Essa relação é reforçada por diversos momentos do filme, como do estabelecimento em que o Dr. William compra uma fantasia, a fim de participar do estranho ritual em uma loja na madrugada americana: lá encontra uma menina desequilibrada e nova em relação com dois homens extremamente mais velhos, com a indignação violenta de seu pai (o dono do estabelecimento). No outro dia, quando ele vai devolver a fantasia, apesar de todo o estardalhaço da noite, saem todos os três em comunhão, ao que o Dr. se revolta e reclama com o dono do estabelecimento que diz que tudo foi resolvido através do concílio do dinheiro.
A filha do dono do estabelecimento é mostrada como uma mulher sedutora e firme. No final das o dinheiro - a venda da filha aos dois japoneses da noite anterior -, institucionaliza - legitima, torna menos impuro - uma relação que era imoral antes através do pagamento. É uma crítica pesada às relações capitalistas em que a economia dos valores simbolicamente construídos ganham uma dimensão hipócrita e demagoga. Muito embora ela choque no momento William, é na verdade, o reflexo de sua crença anterior e machista, de relações que se baseiam em segurança material, é a permanência das aparências e da vida socialmente aceita que alicerça seu casamento.

Assim, o fantástico filme do Kubrick consegue através de imagens belas e envolventes, trilha sonora que entra no mais fundo da mente causando as mais diferentes emoções, realiza uma crítica ampla e contundente aos valores falidos de uma sociedade que o século XX não conseguiu fazer falir, legitimando a neurose e alienação de muitos.

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Este texto é um rascunho temporário de uma crítica que voltarei a escrever.

sábado, 17 de julho de 2010

Aquilo que nos compete

O coração e a boca vermelhos-magma
E se o Céu suava
Aquele frio os esquentava

Caminhavam longa e pausadamente
E se no horizonte, não surgia o eternamente
É porque vivíamos apenas o finitamente

Quando Baco transformou a uva em vinho
Fez-se entre os homens enorme burburinho
Anúncio de futuros carnavais

E da mistura de dor, da paixão e da alegria
Surgiu o Brasil de folia
Compaixão dos deuses à nossa realidade
Deixemos, então, essa nobre-pobre tropicalidade
entoar seu culto donisíaco
Sejamos apaixonados, loucos
Lúcidas, bacânticas
Santos e maníacos

Oh, Brasil de brasileiros
Paraíba de damas e cavalheiros
Sejamos aquilo que nos compete ser!

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Ainda há pouco, meio que de improviso...

domingo, 11 de julho de 2010

Que Banquete seu Platão!





EM BREVE, eu explico.
















Mas, foi FANTÁSTICO.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Semestre corrido, mas Virado!

Esse semestre está extremamente corrido, entrei em muitas atividades, e às vezes fico pensando que não sobreviverei às semanas que virão. No entanto, conforta saber que as atividades valem a pena e que muita coisa está por vir seja a nível acadêmico, político ou mesmo afetivo.

Assim, queria chamar atenção para um evento da semana passada que marca uma virada na situação política da UFPB desde que entrei no Movimento Estudantil: nós da chapa VIRAMUNDO ganhamos as eleições para o DCE/UFPB 2010.

Essa chapa montou-se sob ampla frente de esquerda que aglutinou diversos estudantes indepentes - como eu -, e outros organizados em coletivos como o Levante, ANE-L, CONJUNTO ou em partidos como PSTU, PCR, Consulta Popular, e até o PT (embora bem minoritário).

O caráter da chapa é de unidade, o que achei um grande avanço na situação política daqui, que desde Dezembro de 2008 não via tamanha unificação das lutas. É bom participar de reuniões grandes, com opiniões diversas e vendo muita vontade de mudar a situação da UFPB e da educação brasileira - e da sociedade em geral - nos rostos dos militantes do movimento, isso estimula demais, especialmente em um momento em que o tamanho marasmo do ME me tentava a abandonar esse método de luta.

Espero que essa página não seja apenas virada, mas que o ViraMundo, revire a universidade como um todo, ou seja: realize formações, eventos, integre os estudantes da UFPB, seus cursos, CA's e as lutas; que paute o combate as opressões, que defenda à universidade pública, ma que vá além das lutas essencialmente políticas, também discutindo a academia; que garanta tratamento adequado aos arquivos da entidade que se encontram há muito abandonados, que pressione a reitoria a utilizar bem as verbas, que exponha as má utilizações de recursos na UFPB. Ou seja, há muita coisa ainda para se fazer e discutir... É uma jornada longa, que precisa de muito trabalho e que espero que essa unidade forneça o pique que precisamos para realizar um bom exercício político no Diretório Central dos Estudantes.

Estou bem otimista e feliz com as ações da ANE-L, Levante e Conjunto especialmente.

Vamos ver qual será o futuro dessa chapa... Semestre que vem, mudarei um pouco os planos para tentar contribuir melhor com esse processo... Esperança, acho que é bem esse o sentimento atual.

Até breve!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Negra é discriminada e leva chutes na UFPB

E-mail recebido da Prof. Solange Rocha da UFPB, militante do Movimento Negro:

25 de Maio de 2010

“Chamar só de negro safado não é crime”, diz delegada da Paraíba sobre racismo
A delegada da 4ª Delegacia Distrital de João Pessoa, Juvanira Holanda, afirmou que o acusado de agredir uma estudante africana a chutes dentro da Universidade Federal da Paraíba e cometer ato de preconceito contra a estrangeira não responderá por racismo nem por lesão corporal. O vendedor de cartões de crédito está sendo investigado apenas por injúria e vias de fato. Para a delegada, chamar uma pessoa de negro não configura crime de racismo e chutar o abdômen não é lesão corporal. Segundo a delegada, uma testemunha afirmou que o acusado disse "pega essa negra-cão" durante a confusão que se formou no campus, quando a estudante foi tomar satisfação com o vendedor de cartões por um gesto obsceno que ele teria feito para ela.

- Não houve racismo. Para caracterizar racismo tem que ter uma série de coisas. Não é só chegar e falar "sua branca", "seu negro" ou "seu negro safado". Só caracteriza racismo quando, por exemplo, você impede o acesso de um negro a educação - afirmou a delegada.

De acordo com a delegada, o acusado negou ter chamado a estudante de negra, pois ele também diz ser negro. O vendedor afirma que a estudante o empurrou e correu atrás dele.

- O que houve foi uma discussão simples - disse a delegada.

Juvanira Holanda afirmou que a estudante foi internada no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena devido a seu estado emocional.

Para saber da repercussão local ver http://www.pbagora.com.br/conteudo.php?id=20100525121236&cat=brasil&keys=chamar-so-negro-safado-nao-crime-delegada-paraiba-sobre-racismo
Repercussão Nacional ver http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2010/05/25/chamar-so-de-negro-safado-nao-crime-diz-delegada-da-paraiba-916683695.asp

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Espero que a UFPB tome as devidas medidas sobre o assunto - quanto a nós estudantes, nós tomaremos as nossas. É lamentável o ato racista, mas mais lamentável ainda foi a resposta da delegada. Devemos romper de uma vez por todas com as opressões.

domingo, 23 de maio de 2010

Educação, arte e mudança em O Carteiro e o Poeta a partir de uma leitura de Saviani

Texto escrito para a Disciplina de Didática da professora Regina Rodriguez. (03/05/2010).

Educação, arte e mudança em O Carteiro e o Poeta a partir de uma leitura de Saviani


O filme O Carteiro e o Poeta, Il Postino no original, foi lançado em 1994, dirigido por Michael Radford e baseado no livro Ardiente Paciencia de Antonio Skármeta. Houve um roteiro anterior do filme ambientado na “Isla Negra” onde na realidade aconteceu o fato em que se baseia o filme e o livro original. Em O Carteiro e o Poeta o filme é ambientado na Itália, caracterizando uma ficção que tem uma base factual.

Mario Ruopollo vivia em uma sossegada e provinciana ilha de pescadores na Itália quando Pablo Neruda chega a sua cidade exilado por motivos políticos. Esse evento alterará irremediavelmente a vida desse homem humilde que, não podendo nem querendo ser pescador como seu pai se tornará o carteiro da vila cujo único remetente será o poeta chileno. No entanto, a convivência com o poeta o transforma radicalmente em aspectos sociais, afetivos e políticos.

O texto consistirá em relacionar o referido filme a teoria de Demerval Saviani, grande nome em Filosofia da Educação. Ele foi o primeiro a usar efetivamente o método marxista para pensar a educação brasileira. Difere-se dos demais pensadores tupiniquins de pensamento liberal ou existencialistas, pautando a luta de classes dentro da universidade, acredita que nela não há um bloco homogêneo, que há uma disputa pela hegemonia no seu interior, cabendo aos educadores problematizar essa hegemonia e procurar uma pedagogia emancipadora, ou seja, com uma preocupação social, de libertar os homens de suas opressões.

Assim, Demerval aponta 5 passos essenciais para efetivação do ato educacional:

a) Prática Social: aqui começa o processo educacional e é onde os sujeitos sociais, os atores do processo educacional (professores e estudantes) estabelecem suas relações e reflexões sobre “sua maneira de sentir, pensar e agir na sociedade de acordo com as relações que estabelecem e ainda, conforme se inserem no modo de produção da sociedade a que pertencem” (Rodriguez, 2010).

No filme é o momento em que Ruopollo e Neruda estabelecem relações, ainda tímidas, mas que ganham corpo com o tempo. O momento em que o interesse pela poesia e forma de “ler” o mundo do carteiro e do poeta se encontram e surge uma necessidade e disposição de ambos para uma troca de experiências. O poeta possuí o conhecimento da poesia, e esse fato é reconhecido pelo carteiro que se dispõe a aprender.


b) Problematização: aqui os sujeitos verificam como deverá acontecer o processo educativo. As suas deficiências, carências e as possíveis soluções. Explicita-se a diferença de conhecimento de ambos, a realidade pobre, sofrida e de estímulos restritos a comunidade pescadora de Ruopollo, em contraste com o poeta detentor de diversas viagens e de um saber literário. Nesse momento surgem as perguntas e vontades: “como se faz poesia?”, “o que são metáforas?”, e as orientações do educador, quando Neruda pede a Ruopollo que olhe a sua volta e diga o que sentiu para que as metáforas venham ao aprendiz.

c)Instrumentalização: organizar as técnicas e métodos para adquirir os conteúdos necessários à ação, ou seja, a percepção daquilo que se deve dominar para interferir na realidade que se deseja alterar. Temos o panorama de que Ruopollo quer conquistar Berenice, mas precisa tomar certas atitudes, para as quais precisa de instrumentalização: a poesia. Para tanto, recebe o caderno de poesia – no qual poderá escrever. Nesse momento Ruopollo começa a elaborar suas primeiras metáforas na praia em conversa com Neruda, sua instrumentalização engatinha.

d)Catarse: Neste momento o educando começa a alterar a realidade, multiplicando as ações através do conhecimento adquirido. Ruopollo começa a fazer poesia, percebe que mesmo com a ausência de seu tutor, Neruda, a ilha detém diversas belezas, e que ele pode expressá-las – para isso usa primeiro o gravador (adquirindo conhecimento tecnológico) e também escrevendo poesia. Então ele já não apena faz um grito tímido ao político que engana a comunidade, mas esbraveja, expõe e descortina a prática política enganadora a que sua comunidade é sujeitada.

e) “Práxis”, Prática Social: Volta-se ao início, a prática social, mas em um estágio diferente. Aqui o sujeito apropriou-se de um conhecimento podendo utilizá-lo para uma ação, mas que não se efetiva apenas para si, mas com uma finalidade, com uma reflexão. Rupollo não apenas esbraveja, ele escreve poesia e vai à luta, manifesta-se pelos seus direitos em passeata comunista com os quais se identifica. Ele vai expor sua criação, sua poesia, seu conhecimento adquirido, mas com reflexão, ele sabe o que quer mudar: a realidade de seu povo oprimido.

Assim, podemos identificar no filme um panorama do processo educativo e sistematizá-lo pela teoria de Saviani. Se o filme fala de metáforas, e o carteiro indaga ao poeta se o mar e tudo mais que o cerca pode ser metáfora de algo maior, também indaga a nós expectadores que talvez nossa realidade queira nos dizer algo que espera uma mudança, uma ação ativa nossa na realidade. Indaga também que a terra, o céu e tudo o mais, agora imaginados não mais como o mundo, mas como o universo fílmico ao qual se insere a personagem, podem ser uma grande metáfora, ou seja, o diretor nos faz um convite para que façamos nós ações práticas e que sejamos sensibilizados pela grande metáfora que é o filme.

Quando Ruopollo conhece Berenice e joga totó com ela, no qual ele perde - representando a inferioridade da personagem frente ao mundo feminino, mas também geral do universo fílmico , Berenice coloca a bola branca na boca desafiando o hipnotizado homem a tomar uma atitude viril, uma atitude segura, ativa, mas o tímido não consegue alcançar êxito.

Depois, há uma cena que Ruopollo segura a bola em mãos, compenetrado olhando o negro céu no qual brilha uma enorme e clara lua cheia. Essa lua representa a bola que está nas mãos de Ruopollo, que representa Berenice, que representa algo inalcansável para o personagem, alcançar Berenice é como tentar chegar à lua. Essa metáfora é reforçada quando Ruopollo tenta escrever pela primeira vez em seu caderno recebido por Neruda: sem conseguir escrever nada, ele desenha um círculo, esse círculo remete à Berenice, à lua, e à bola de totó – a poesia também permanece inalcansável para ele no momento. Essa na verdade, é uma grande metáfora para a ação social da personagem que ainda não está instrumentalizada. Esse é o momento da problematização, abre-se o leque de necessidades da personagem, que não são apenas amorosas, mas políticas e econômicas: a necessidade de trabalhar, a exploração de sua vila por políticos.

Assim, quando Ruopollo começa a declamar poesias – mesmo que não sejam suas, mas de Neruda –, ele começa a utilizar do conhecimento, para alcançar seus objetivos, embora ainda não seja o detentor completo daquele instrumento, pois ainda não é capaz de criar independentemente. Ao ser questionado pelo uso das poesias por Neruda, o carteiro aponta dois fatos: que a poesia na verdade é de quem precisa dela – aqui já começam traços de independência, o conhecimento deixa de ser do seu criador, mas daquele que o utiliza com certa finalidade – surpreendendo Neruda que aprova a premissa; e também dizendo que foi o poeta quem o colocou na enrascada – a mãe de Berenice vem e ameaça de morte o rapaz caso volte a ver sua filha - e que agora precisava o ajudar a sair do problema, ou seja, mantém-se um vínculo de necessidade ainda com a figura do educador. Estamos no momento de instrumentalização.

Mais a frente, quando Berenice e Ruopollo tem o primeiro momento íntimo, Ruopollo escorrega a bola pelo corpo de Berenice que coloca a esfera na boca que é logo retirada pelo carteiro que em seguida a beija – fechando um ciclo de inação diante do sexo oposto -, é o início da independência da personagem. Aqui se caracteriza a Catarse, Ruopollo começa a alterar sua realidade com o conhecimento adquirido.

No final do filme, Ruopollo se mostra mais forte e independente, tendo opiniões próprias e tomando decisões, seja de fazer a gravação para Neruda, criando poesias ou indo à manifestação política dos comunistas. Ele agora é detentor de um saber e tem uma ação refletida, com objetivos claros. Conclui-se o processo educacional com a práxis.

Conclusão

Através do filme podemos ilustrar os 5 passos didáticos de Saviani, e, principalmente, compreender como se dão na prática. Assim, fica evidente a pertinência e eficácia do método de Saviani, mas não apenas isso: a necessidade de uma educação que realmente permita uma emancipação social.


Bibliografia: Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica de João Luiz Gasparin

André Fonseca Feitosa graduando em História pela UFPB ( http://processosubjetivo.blogspot.com )

sábado, 8 de maio de 2010

Comentários sobre Educação a partir de texto do Gasparin

Texto escrito para a disciplina de Didática ministrada pela Professora Regina Rodriguez na UFPB. Data de 04 de maio de 2010.
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Esquema lógico do desenvolvimento do conteúdo do texto

O capítulo 1 (Prática Social Inicial do Conteúdo – o que os alunos e o professor sabem) do livro Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica de João Luiz Gasparin, baseado na teoria de Demerval Saviani é dividido nos seguintes tópicos:

1. Fundamentos Teóricos – aqui o autor oferece-nos um panorama teórico, baseado em diversos autores para fundamentar – como o título sugere – a proposta metodológica que será apresentada em seguida.

Assim, ele inicia o texto apresentando o conteúdo que abordará o texto, em seguida cita diversos autores começando por Vasconcellos, e seguindo por Paulo Freire, Cortella, Daviani, dentre outros.

Dessa forma ele sedimenta a necessidade e validade de fazer uma primeira sondagem do conhecimento prévio do educando, e da necessidade do professor conhecer essa realidade para desenvolver seu trabalho, orientando o aprendizado do aluno de forma que o educando resignifique seus conhecimentos tornando-os mais sofisticados, partindo do senso comum para o saber científico.

Afinal o educando inicia seu aprendizado antes da escola, não ao entrar ali. Sua realidade social já oferece estímulos e ao chegar na escola há um conhecimento caótico e empírico que se chocará com o saber científico. Daí a necessidade do professor conhecer bem essa realidade que permeia a sala de aula, a fim de que sua aula seja eficiente e eficaz.

Além disso, o conhecimento virá fragmentado e poderá permanecer fragmentado também na escola. Por isso, propõe a “prática social considerada na perspectiva do pensamento dialético (...) pois refere-se a uma totalidade que abarca o modo como os homens se organizam para produzir suas vidas, expresso nas instituições sociais do trabalho, da família, da escola, da igreja, dos sindicatos, dos meios de comunicação social, dos partidos políticos, etc” (Gasparin, 2005, 21)

2. Procedimentos Práticos

Aqui o autor proporá as ações práticas para realizar aquilo que foi exposto teoricamente: primeiro dever-se-á informar os alunos do conteúdo que será abordado, dialogando com os educandos sobre ele, verificando o que sabem sobre ele e qual relação mantém entre o conteúdo e seu cotidiano. (caracterizado no subtópico 2.1 Anúncio dos conteúdos).

Em seguida bem o subtópico “2.2 Vivência cotidiana dos conteúdos”, aqui o autor propõe a estimulação dos alunos através da orientação do professor, para mostrar todo o conhecimento que detém sobre o tema em discussão. Aqui se expressará o todo caótico-empírico que o professor tentará desnaturalizar e atualizar e sistematizar em novo conteúdo científico.

Em seguida virá a parte de estimular suas dúvidas, curiosidades sobre o tema, através de perguntas, para que os atores da relação de aprendizagem formem objetivos de conhecimento, estabelecendo conexões, a fim de quebrar o aparente e natural contextualizando-o sócio-historicamente.

Depois o autor conclui com um exemplo que ilustra todo a prática e teoria tratada.

[5 informações destacadas no texto]

[1 - página 21]

“A prática social considerada na perspectiva do pensamento dialético é muito mais ampla do que a prática social de um conteúdo específico, pois refere-se a uma totalidade que abarca o modo como os homens se organizam para produzir suas vidas, expresso nas instituições sociais do trabalho, da família, da escola, da igreja, dos sindicatos, dos meios de comunicação social, dos partidos políticos, etc.”

Notamos aqui como essa teoria está ligada umbilicalmente a uma base teórica marxista de análise sócio-histórica. Assim como a teoria alemã essa visão didático-pedagógica pretende dar conta de um todo social, alcançar a universalidade, questionando também um conhecimento que seja apenas teórico, ou melhor, apenas idealizado – na crítica de Marx ao idealismo radical hegeliano – propondo uma educação que se baseia em um contexto real e concreto dos atores envolvidos na relação didática.

[2 – página 21]

“É de ressaltar (...) que o diálogo pedagógico não se estabelece entre intersubjetividade de professor e alunos, mas sim, na relação de ambos ‘...com o pensamento, com a cultura corporificada nas obras e nas práticas sociais’ (Chauí, 1980, p.39)”

Achei essa passagem interessante por dois aspectos: primeiro propõe uma cisão com certo discurso exacerbadamente individualista que permeia o senso comum e mesmo o conhecimento acadêmico atualmente. Assim, o diálogo se dá na relação entre dois atores sociais, e não entre duas intersubjetividades, mostrando como o indivíduo é construído socialmente e não a partir de “robsonadas” (como cita Marx na Ideologia Alemã, acerca de certa teoria feita baseada em um indivíduo desprovido de contexto, como um Robson Crusoé).

Mais a frente na citação de Chauí, aponta-se outro aspecto interessante: da “cultura corporificada nas obras e nas práticas sociais”, ou seja, esse indivíduo social se mostra nas práticas sociais, não em um lugar estranho e obscuro limitado completamente ao âmbito particular e psicológico.

[3 – página 22]

“...a prática social, referida aqui, não consiste apenas naquilo que o aluno, enquanto indivíduo, faz ou sabe, em seu dia-a-dia, relativo ao conteúdo. Essa prática social traduz a compreensão e a percepção que perpassam todo o grupo social. Evidentemente, a expressão dessa prática dá-se por um indivíduo que a aprendeu subjetivamente, utilizando filtros pessoais e sociais. Todavia, essa expressão não é dele, mas do grupo que manifesta sempre as determinações e apreensões do todo social maior. Por isso, ela se apresenta sempre como uma prática próxima e remota ao mesmo tempo”

Quero chamar a atenção para os termos “Percepção que perpassa o grupo social”, ou seja, as impressões do indivíduo são compartilhadas, há uma percepção coletiva, caracterizada por valores socialmente aceitos que também constroem a mentalidade dos atores sociais do processo educacional.

Mas ao mesmo tempo o indivíduo tem “filtros pessoais e sociais”, ou seja, há uma dimensão individual que não pode ser desprezada. O indivíduo a partir de suas experiências que são uma combinação única de diversos estímulos diversos, constituirá filtros e uma mentalidade que se relaciona com o discurso coletivo.

E essa expressão coletiva não é dele, mas compartilhada socialmente, pois construímos nosso ideário a partir das informações recebidas dos outros, formando uma cultura que é coletiva.

Esta deve ser problematizada em sala de aula e identificada, aumentando a liberdade do indivíduo frente aos discursos hegemônicos, construindo uma contra-hegemonia, a fim de realizar uma mudança social.

[4 – página 30]

“O simples fato de terem suas contribuições aceitas sem julgamento incentiva os alunos a participarem da busca de soluções para os problemas apontados pela prática social”

Aqui também há uma legitimação do aluno enquanto ator, enquanto ser ativo do processo de transformação social. Assim, ao legitimar sua voz e seus saberes, o professor alcança uma relação de confiança que permite orientar para aquisição de conhecimentos mais complexos, mas também o motiva, estimula a ação transformadora, retirando-o de uma posição de passividade frente a educação e sociedade.

[5 – página 30]

“Esta fase se encerra no momento em que o professor observa que os educandos estão começando a tomar consciência do problema social apresentado, nesse caso, pela água, não apenas em relação ao conteúdo escolar, mas acima de tudo em relação à sua vida diária, à vida da comunidade, das instituições sociais, da política, da organização dos grupos humanos em toda a parte”

Este processo problematiza os conteúdos para além de sua automática legitimação, como um axioma. Dessa forma leva-se o aluno a pensar na sua educação para além de uma obrigação, mas um conhecimento escolar que se reflete no cotidiano, fazendo com que o processo educacional se torna perceptivelmente contínuo, na medida em que o aluno se conscientizará de seus avanços de possibilidades de ação frente ao seu cotidiano.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

CINEFAGIA


Agora vai... Já temos programação para o semestre.. Só faltam alguns últimos ajustes e algumas resposta de apoio do Departamento de História da UFPB.

Muito, muito trabalho pela frente, não só do CineFagia (que há muito tempo tentamos construir) mas também no Centro Acadêmico de História que anda com alguns problemas. Parece que esse semestre será carregado...

Enquanto isso vou prosseguindo com minhas leituras, aguardem que as coisas vão esquentar ainda por aqui.

Ah, o site do CineFagia (mas ainda está precisando de diversos ajustes)
http://cinefagiajp.blogspot.com

sábado, 27 de março de 2010

CINEFAGIA


BREVE!
=]

quinta-feira, 25 de março de 2010

Carta Aberta sobre o ENADE/SINAES

(Carta de sugestão para o Centro Acadêmico Quebra Quilos do Curso de História da UFPB, a fim de problematizar a questão da Avaliação do Curso, bem como os últimos acontecimentos de tensões entre a Coordenação do Curso e a representação estudantil)

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Desde 2004 todas as universidades são obrigadas a se submeter a avaliação do ENADE dentre elas a UFPB. Em consonância com o Movimento Estudantil nacional de esquerda unânime na posição de crítica e boicote ao ENADE, houve na UFPB e, mais especificamente, no curso de História um movimento político de oposição a prova puxado não apenas pelo Centro Acadêmico de História, mas com outros CA's e coletivos ainda hoje atuantes na UFPB.

O curso obteve um baixo resultado no ENADE, ficando sujeito à visita in loco de representantes do MEC. Neste período, O CA passava por um momento delicado de reorganização e de renovação dos quadros; Preocupado com uma mudança em práticas anteriores, o CA buscava maior diálogo com o Departamento de História (DH).

Nessa conjuntura, o coordenador professor Ângelo Emílio recebe a notícia da visita iminente do MEC. O DH fica apreensivo - provavelmente pelas notícias de más experiências de cursos pós-avaliação do MEC Brasil afora. Inicia-se um debate e estratégias do Departamento, Coordenação e CA para juntos identificar o motivo da nota baixa, e a pergunta freqüente era: foi o boicote o motivo da nota baixa? Mas não havia, nem há, dados para resolver tal questão.

A estratégia era clara: ASSINAR A PROVA E NÃO RESPONDER AO QUESTIONÁRIO, colocando um adesivo do boicote ou um zero de caneta - assim o aluno não se prejudicaria, pois a prova é OBRIGATÓRIA, e pré-requisito para receber diploma. Isso foi avisado em sala e no dia da prova, quando também houve mobilizações. No entanto, O CA foi acusado, INDEVIDAMENTE, de ter feito um ato "irresponsável" e acusado de brincar de fazer política pelo professor e coordenador Ângelo Emílio que dizia pela universidade que os estudantes de história boicotaram o ENADE porque o CA mandou, como “boiada”, retirando qualquer dimensão crítica e autônoma dos estudantes do curso de História.

Essa posição não foi corroborada por outros professores que tentavam explicar que a situação não era bem essa, que o CA estava em uma gestão específica - que de fato não é a de hoje -,embora tal decisão fora fruto de diversos debates, e que os estudantes não fizeram por “boiada”, mas por concordar com o posicionamento da gestão. No entanto, as acusações continuavam em momentos diversos, tornando-se mais tensa a situação com a visita do MEC.

Durante a recepção do CA para os feras de 2010, o professor Ângelo deu o aviso da avaliação do MEC e convidou os estudantes a participar de uma das reuniões. Em sua fala chegou a dizer que os alunos "não fossem dizer que tudo era dourado, mas também não fossem para a reunião reclamar apenas para fazer oposição por fazer oposição ao governo". Mais uma vez subestimou o pensamento dos estudantes e quis claramente influenciá-los frente a avaliação do MEC. Ora, essa atitude demonstra a posição tensa e temente do Departamento e em especial do coordenador com a avaliação do curso. Além de cometer o equívoco de querer insinuar aos alunos que façam um discurso moderado durante a reunião, o professor tentou diminuir um espaço legítimo de fala do alunado que, segundo nossa concepção, deveria ter o direito de dizer aquilo que achavam sem contenções, exercendo seu direito de expressar suas ânsias e inquietações com a Universidade e seus problemas estruturais.

Questionado sobre sua atitude na praça da alegria, o professor se exaltou e fez acusações graves e impertinentes ao CA: exaltado, acusou-nos de ser uma “seita política”, desconhecendo a situação real do CA e desrespeitando seus membros, especialmente os novatos. Além disso, a frase ignora a dinâmica política do Movimento Estudantil e do CA.

Há contradição em diversas falas que nos acusam de sermos responsáveis pela visita do MEC através do Boicote e quando se diz que o ENADE é só uma pequena parte do SINAES – Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior - desprezando sua importância. Ora, se essa importância é tão pequena, por que a visita do MEC e por que tamanha preocupação?

Assim, estando a atual gestão interessada em agir com maior apuração sobre o tema, repetimos mais uma vez que estamos dispostos a discutir o assunto com nossos colegas de curso e professores (desde que com respeito às nossas posições), e para tanto tais espaços estão sendo discutidos.

Deixando claro: queremos discutir com a Coordenação e Departamento todas as questões relativas ao curso e Universidade, pedindo aos integrantes que esse evento equivocado não perturbe nossas relações. Todavia exigimos respeito a nossas posições que não devem nem vão se submeter a outras entidades da universidade fazendo jus a autonomia estudantil tão arduamente conquistada e lutada pela história do Movimento Estudantil da qual fazemos parte.

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Não sei se a carta será publicada na universidade...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Estrela

Escrevendo besteiras...
Em Março escrevo algo que preste, provavelmente sobre os filmes que tenho assistido...
Até lá...

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Era uma criança, mas andava manco como um velho.

Após inúmeros tropeços, quedas sob um sol escaldante e noites gélidas

Encontrou um ombro amigo para acompanhar na viagem e se apoiarem.

Falou-se da vida, fizeram planos, enquanto o Destino não chegava.

Até que um dia, o ombro que parecia tão certo, esvaiu-se, deixando-o só.

Na primeira das habituais quedas, ergueu os olhos e viu o percurso andado e por andar.

Notou então, pela primeira vez, que era um caminho pedregoso, com espinhos

Cujo clima instável e inconstante castigava-o.

Percebeu que era a arte, a música, a amizade e alguma fantasia que até então camuflaram a real forma da estrada.

Então, a Vida pareceu-lhe Morte, e a Morte, Vida.

Ficou confuso: o Horizonte de chegada antes certo e amargo, parecia-lhe agora doce.

E o percurso antes tão bom e agradável causava-lhe desconforto.

Olhou em volta e percebeu o quanto vivera enganado.

Ajoelhado sob as pedras, tentou, mas em vão conseguiu segurar o choro e a aflição

De saber que aquela caminhada deveria continuar por longos anos

Até a doçura do Destino lhe abraçar.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Sonhos

Sonhe
Sonhei
Sonharão?
Talvez outras gerações...
Este sonho acabou

Lua, já podes brilhar o quanto quiserdes no firmamente docemente adornado:
Já não me iluminas
Já não posso te olhar
Eu morri, eu me tornei monocromático

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É um processosubjetivo afinal...

sábado, 23 de janeiro de 2010

MPB - 1960

Quereres (Chico Buarque & Caetano)



Cotidiano (Chico Buarque)



III Festival de Música Popular Brasileira: Roda Viva de Chico Buarque



(4° Lugar - Alegria, Alegria - Caetano Veloso)



Disparada - Geraldo Vandré e interpretada por Jair Rodrigues
(1° Lugar junto com A Banda no II festival de Música Popular em 1966)



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"Todo monumento histórico é um monumento de barbárie" (Walter Benjamin)

Não consigo pensar na riqueza da MPB sem relacionar com sua sepultura com o AI-5, ao menos daqueles movimentos tão fortes que vicejavam na década de 1960...

"Porque gado a gente marca, mas com gente é diferente!"

sábado, 16 de janeiro de 2010

Poesia sobre o tempo...

Por que me aperta o peito
Prendendo a respiração
e pausando os pensamentos?

Quem me aperta o peito
Prendendo minha respiração
e pairando em meus pensamentos?

Que será do tempo
Temo o tempo
E o tempo não teme
mas só ele sabe
O que será

Futuro é mistério
É a obscuridade de uma ignorância
que nunca vamos acabar
A ignorância do que será

Quem vai medir
a velocidade das alegrias
Quem vai medir
o devagar das tristezas
o século de uma angústia?

Quem vai mandar no tempo?
Em quem o tempo vai mandar?
Que será de nós se o tempo
Persiste em nos escravizar...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Baudelaire no Itárcio

Discordo de algumas coisas do blog do Itárcio, mas definitivamente a escolha da poesia foi muito feliz:

http://blogdoitarcio.blogspot.com/2010/01/embriagai-vos.html

Embriagai-vos do Baudelaire.

Viva ao BBB (Baco, Benjamin e Baudelaire)

=]

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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Carlos Drummond de Andrade

Liberdade

O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Mas livre, bem livre,
é mesmo estar morto.

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Missão do Corpo


Claro que o corpo não é feito só para sofrer,
mas para sofrer e gozar.
Na inocência do sofrimento
como na inocência do gozo,
o corpo se realiza, vulnerável
e solene.

Salve, meu corpo, minha estrutura de viver
e de cumprir os ritos do existir!
Amo tuas imperfeições e maravilhas,
amo-as com gratidão, pena e raiva intercadentes.
Em ti me sinto dividido, campo de batalha
sem vitória para nenhum lado
e sofro e sou feliz
na medida do que acaso me ofereças.

Será mesmo acaso,
será lei divina ou dragonária
que me parte e reparte em pedacinhos?
Meu corpo, minha dor,
meu prazer e transcendência,
és afinal meu ser inteiro e único.

(Carlos Drummond de Andrade - Farewell - 1966)

Assim começa 2010,

Feliz Ano Novo!