domingo, 16 de outubro de 2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Tarde demais

Nós, humanos, sempre entendemos tarde demais as coisas.
Talvez por isso existam historiadores; sempre atrás de compreender um pouco mais aquilo que passou - mesmo que a hora "H" tenha já passado.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Poetando (?)

Largo em Lugar ilegal
em Lago Lânguido
um lúgubre "Liga Logo!"

Nada, Não dá.
Nem digo,
nudo desnudo
no dorso
na doçura...
nado nas (a)degas.

Bruno bronco,
brande as brumas brandas
do Brasil brejeiro e bruto.
Brinca e brilha.
De brinde uma bronca.


E aí eu fui escrevendo várias coisas com essas aliterações, achando que era poesia... Para ser sincero, poesia ou não, só que eu gostei muito da brincadeira..

=)

Mas, o Fernando Pessoa faz melhor:


Em horas inda louras, lindas
Clorindas e Belindas, brandas
Brincam nos tempos das Berlindas
As vindas vendo das varandas.

A literatura é uma coisa mágica, né?

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Beijo Gay na TV

Engraçado como a TV está em evidência como pólo de disputa das "representações sociais" como esse lance do Beijo Gay... Fico pensando se as pessoas lembram que a maior luta não é para aparecer na TV, mas para que o beijo ocorra nas ruas... Lutar apenas por "direitos virtuais" é bobagem, né?
(sou chato mesmo..)

De qualquer forma, vi algo legal sobre essa campanha nesse link:

domingo, 5 de junho de 2011

sábado, 4 de junho de 2011

Ferve Brasil ou debates que não podemos ignorar mais.

Há diversas questões que nenhum cidadão ou cidadã brasileiro pode atualmente ignorar. Dentre eles a aprovação do novo código florestal que diz respeito ao futuro ecológico e humano (em questão da qualidade de vida) do brasileiro; da questão da PL 122, ou seja, o combate a homofobia, que está no centro do debate sobre o respeito à diferença e diversidade humana (representada um primeiro passo a também reconhecer, ainda que indireta e simbolicamente, a diversidade étnica, racial, religiosa, etc); e a questão salarial dos professores (ou a criminalização dos movimentos sindicais/sociais, que está muito forte, especialmente aqui na Paraíba onde, quarta-feira, foi declarada ilegal a greve dos professores), pois diz respeito diretamente à legitimação do direito à luta por melhores condições salariais, ou seja, de vida.

NÃO IGNOREMOS TAIS DEBATES !

Use o twitter, seu local de trabalho, seus vizinhos, o facebook, o orkut, suas roupas, sua voz, sua arte, tudo o que pudermos.

Vamos expandir as discussões e não deixar que essas transformações virem um lamentável dado histórico.

sábado, 16 de abril de 2011

Correio Verdade - Palhaçadas da Mídia Brasileiro-paraibana

Recebi no e-mail remetido pelo Prof. José Jonas Duarte (Deparamento de História/UFPB).

Uma boa reflexão para nós paraibano-brasileiros/as ...

"A TV paraibana nunca foi tão ridicularizada. As mortes transmitidas das 12 às 13h, que já era prato principal do almoço de muitos paraibanos "vidrados" no correio verdade agora estão do jeito que o jornalismo imprudente sempre sonhou: as pessoas riem da desgraça alheia e a bandidagem ainda vira melô, hit musical...
Pois é, as novas celebridades do jornalismo local não são reconhecidos por seu trabalho sério e competente em informar...não são visto pelo Brasil como repórteres que elevam a Paraíba...são reconhecidos em toda a parte, mas, como o próprio Portal Correio anunciou em 2010, " Agora, toda a Paraíba vai ver e conhecer a força, a alegria e a irreverência de Samuca Duarte e Emerson Machado." É mesmo uma pena que estivessem falando de um programa policial...
Sucesso no you tube, orkut e afins, a "dança do mofi" é unanimidade: agrada tanto aos cidadãos de bem quanto aos bandidos. As crianças, incentivadas até mesmo pelos pais, colocam a camisa na cabeça e com os braços para trás dançam e aumentam a popularidade do jornalismo que todas as tardes ri da falta de consciência de uma população que já acostumada com a impunidade, resolveu aceitar que ela virasse piada.
Tratados como "amigos" (já que são a audiencia), os criminosos até gostam das brincadeiras, afinal de contas, nem é assim tão grave o que eles fazem...

...

Para mim, parecia que já tinham usado e abusado de todas as armas do sensacionalismo, mas mostraram que não: no dia 31 de março o telejornal foi transmitido em pleno Mercado Público de Mangabeira, e é claro, com direito a palco e plateia.
A cada notícia de mais uma entrada no Hospital de Emergência e Trauma ou de uma briga em bar que acabava em morte, uma música era tocada pela banda que estava participando do Caravana da Verdade. Lágrimas, perdas e outras tristezas que merecem respeito (seja por quem for), viraram show. Um show desejado e aclamado por muitos telespectadores. Ah, a ideia contraditória e doentia da contratação da banda foi anunciada no prórpio Portal Correio, com as seguintes palavras:" A Banda Identidade Baiana realizará um show para animar ainda mais o evento, das 11h às 14h."
Samuka Duarte, Emerson Machado ( Mô- fi), Marcos Antonio (O Àguia), Josenildo Gonçalves (O Cancão da Madrugada) e toda a equipe de edição do Correio Verdade conseguem, dia após dia, tornar animadas as refeições de paraibanos que não se importam em almoçar frente às cenas de corpos perfurados e poças de sangue humano. Creio que não conseguem, com a mesma eficácia, tornar menos dolorosa a sina de uma mãe que sente a dor de ter um filho que agora é presidiário, de parentes de uma criança que morreu acidentalmente ou de um pai, que vê seu filho destruído pelas drogas, morto e servindo de audiência para um programa de humor negro chamado Correio Verdade.
Não sou jornalista. Sou nutricionista, mas antes disso, cidadã. Incomodada com o desprezo explícito à vida humana senti a obrigação de pedir a todos os meus contatos que repensem seus valores de respeito e dignidade à vida sempre que pensem em assistir esse e outros programas que indiquem sinais tão fortes de insulto a nós, telespectadores. Insulto a nossa capacidade e direito de exigir jornalismo de qualidade em palavras e atitudes.
Se concorda, repasse o email. Quanto mais as pessoas se conscientizarem dos "pequenos" males que nos envolvem com graça e alguns risos com gosto de sangue, mais chance teremos de exercer e usufruir daquilo que chamamos de cidadania. Merecemos mais respeito."

Texto de Elaine Oliveira.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

C'est la vie.

Voamos como o vento que sopra rumo ao horizonte até desaparecermo-nos dos outros, às vezes até de nós mesmos. Desencontros e encontros. A terra gira indiferente.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Cultura política e breves reflexões sobre a esquerda brasileira

Texto escrito há muito para postar no blog. Mas com a correria dos estudos, nem me organizei para postar, mesmo com dois meses de atraso - e agora revisado - aí vai:

26/02/11


Ouvindo: A Banda – Chico Buarque


Sábado. Comecei o dia na abertura do Carnaval de João Pessoa, com direito a muito frevo, axé e, principalmente, Alceu Valença, cuja performance me fez esquecer de todo o cansaço de uma sexta-feira fatídica e dançar, cirandar e seguir o trio até às 2h da manhã, na bela Lagoa no centro de nossa cidade. Fico pensando o quão podemos ficar orgulhosos de nosso vasto país: temos artistas fantásticos capazes de nos emocionar, animar, rir, chorar. Brasil: apesar das desigualdades, ainda criadouro de arte e humanidade.

Deixando de lado toda essa ladainha piegas, falarei do real tema do texto: li um texto publicado na revista de “Estudos Históricos e Sociais” Fênix. O texto é do Professor e Pesquisador Alcides Freire Ramos da UFU e seu título é A luta contra a ditadura militar e o papel dos intelectuais de esquerda.

O tema de cultura política me interessou muito. Aborda-se o contexto pós 1964, quando a esquerda entrou em um grande período de auto-avaliação. A partir daí o Alcides Freire analisou como tais organizações se relacionaram com os terríveis rumos políticos tomados pelo nosso país e seu papel nesse processo. Assim, a esquerda identifica suas debilidades com ilusões e comportamentos “pequeno-burgueses” em seus quadros. Essa atitude está presente nos textos do PCB e outras frações dele, inclusive naquelas que adotaram a luta armada como saída política para a situação sufocante da ditadura militar brasileira.

O tema já me interessa um bocado, mas para além da questão de compreender um momento histórico, chamou-me a atenção para alguns indícios que permanecem muito presentes nas práticas e discursos políticos dos partidos de esquerda hoje. Não à toa, a todo momento o texto me remetia às experiências no Movimento Estudantil quando convivi, principalmente, com militantes do PSTU e Consulta Popular. Já achava alguns conceitos estranhos e um tanto inconsistentes – não os digo que são por si só, mas em como eram utilizados, ou seja, na sua função prática, no cotidiano político – e, assim, o tema se tornou mais curioso ainda. Lembrava a todo tempo as palavras de ex-companheiros de Centro Acadêmico ou militância dizendo – muitas vezes taxando – todo tipo de ação, ideias ou comportamentos como “pequenos-burgueses”, como uma maneira de deslegitimar práticas e ideias através da associação deles ao crime do fantasma do desvio de classe, ou melhor, de identidade de classe.

Parece-me, agora, mais tentadora a História Cultural que antes, ainda mais quando pode ser aplicada assim a temas políticos. Dessa forma, fico a todo momento pensando na ideia de Chartier que propõe a análise dos textos de uma sociedade a partir da tríade representação, prática e apropriação. OK, Não é a ideia deste texto esgotar ou analisar tal questão: isso requeria muito mais leituras, é mais um indicativo de reflexões que fiz durante minha atuação política e que agora estas leituras – do Chartier e do texto do Alcides Freire – tornam algumas coisas mais claras e curiosas.

Assim, fico pensando em como o marxismo – e isso certamente vale para outras teorias – é apropriado de forma diversificada por diversos intelectuais e que tais apropriações nem sempre correspondem as leituras que os militantes acreditam conhecer. Podemos falar em marxismos, embora muitos, mesmo na universidade e no movimento, insistam em tratar como algo único, partindo de certas noções de senso comum que o relacionam ao marxismo clássico da Europa oriental que está longe de ser a única abordagem da teoria marxista. Daí desse problema de formação e das práticas políticas há outro abismo: nem sempre esse "conhecimento" - como um fenômeno dado na prática, não da real compreensão de uma ideia tal qual é colocada por um autor - leva a uma prática realmente coerente com idéias marxistas, uma espécie de interrelação entre conhecimento e (des)conhecimento; ou, às vezes, compreensões claras, mas de teorias não mais interessantes levam a práticas desinteressantes.

Assim, surgem os fantasmas da “identidade pequeno-burguesa”, “peleguismo”, etc, que em vez de explicar ou guiar satisfatoriamente as ações políticas, mais maquilam outros preconceitos como racismo, machismo, dentre outros. Esse fenômeno que descrevo está relacionado a um tipo de prática no Movimento estudantil (caracterizado por uma "pequena burguesia" se utilizarmos o marxismo clássico), mas que acredito que se lança mão de tais conceitos, muitas vezes, os distorcendo e, a partir daí, relacionando-os a preconceitos e justificações de querelas políticas menores para legitimar ou deslegitimar práticas políticas opositoras.

No artigo da Fênix fica claro o impacto psicológico e social que tinham tais noções dentro das organizações de esquerda da segunda metade da década de 1960: pressões, confusões e, frente às péssimas condições político-estruturais que elas enfrentavam, muitas vezes culminando em atitudes suicidas. Obviamente não seria justo atribuir tais comportamentos tão somente à tais linhas políticas, mas também identificar que a truculenta repressão do período era o cenário para tais acontecimentos, o motor de tais conjunturas tão radicais.

O que quero chamar a atenção, é a criação desse "demônio", desse intruso, desse ente, que atrapalha e desorganiza as ações políticas. Em outro texto sobre a União Soviética, essa exaltação de uma cientificidade do marxismo que caía em certo cientifismo da época, culminou por ser prejudicial às relações políticas dali, dificultando, inclusive, as vias democrática internas dos bolcheviques.

O texto pode parecer um tanto quanto briguento demais - e confuso sem ser confrontado com o texto do Alcides Freire -, mas, para além das críticas à esquerda, continuo acreditando na maioria de seus valores. Mas, ao mesmo tempo, vejo o quão somos incipientes em matéria de política e a necessidade de avançarmos mais e mais na construção de um novo modelo de sociedade – algo extremamente necessário, permaneço acreditando. Até mesmo porque tais resoluções “radicais” ou “inconsistentes” não são simplesmente crias partidárias, mas de homens e mulheres que discutiram coletivamente e que escolheram dedicar suas vidas à criação de um mundo melhor. Foram tais homens e mulheres que foram trucidados na ditadura militar, não apenas vítimas lastimáveis de um regime violento, mas porque preferiram enfrentar quando muitos acovardar-se-iam. Essa é a história de nossa esquerda: erros, acertos, dores, feridas, risadas e muita coragem.


Procurem o texto!

domingo, 13 de março de 2011

Minhas Mães e Meu Pai

Curti o filme.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Pensando Brasil

(texto realizado para o eixo temático de debates do grupo Filosofia Carcará com a pergunta Por que uma filosofia Carcará?)


Quando somos, falamos ou pensamos em Brasil, vêm a nossa mente as mais diversas concepções e imagens, muitas abrangidas pelo extenso guarda chuva da palavra cultura, outras políticas, territoriais, históricas, etc. Mas, o fato é que o Brasil como nação e Estado não tem um histórico de consistência unívoca “ontológica”.


Hoje, até mesmo a mais simples afirmação do descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral em 1500 é contestada por historiadores, seja no caráter da personagem histórica ter sido realmente a primeira a fazê-lo ou do fato do próprio ato de descobrir – afinal já havia índios, e o único mistério do “Brasil” era para o resto do mundo, ou se formos mais objetivos, para a Europa que cunhou a ideia de descobrimento. Mas, podemos ir mais longe, e questionar inclusive o descobrimento de um Brasil, que na verdade será construído posteriormente, seja a palavra Brasil – éramos antes a Ilha de Vera Cruz –, seja a ideia de uma unidade política/territorial – éramos colônias de Portugal –, seja de um Estado – que surge com a formação do Império do Brasil –, ou a ideia de Nação tão debatida desde o Império por historiadores como Vanhagem até hoje – continuando nebulosa e contraditória, sem falar de diferente: o Brasil do século XIX até o XXI, não é uno, mas também diverso: são inúmeros e históricos Brasis que se inter-relacionam.


Até aqui foi focado a questão política e conceitual: duas heranças mais consolidadas da historiografia, muito embora não sejam as únicas formas de trabalhar tal temática. Hoje já levantamos outros questionamentos, historicizando o Estado, as territorialidades, as diversas formas de organizações políticas, as ideias de nação, os personagens/grupos sociais que compunham a nação – uma questão que exemplifica bem o delinear das perspectivas historiográficas que trouxeram aos holofotes diversos personagens – a corte, o povo, os esclarecidos, os negros, os índios, os estrangeiros, os portugueses, os paulistas, os cariocas, os nordestinos, os operários, os trabalhadores, os empresários, os movimentos sociais, gays, heteros, cabras-macho, travestis de carnaval, mulatas, prostitutas adultas e infantis, povo hospitaleiro e alegre ou um povo esfomeado? O Brasil da novela das oito ou de Rio 40 graus? - Não são apenas exemplos que explicam variações de perspectivas históricas, mas também olhares sobre homens e mulheres que compõe aquilo que chamamos de povo brasileiro, ou de Brasil – quais são as peças certas e seus locais no quebra-cabeça que é nosso país?


São grandes e inúmeros as perspectivas de divisão de nossa sociedade, todas historicamente localizadas. Hoje, com a defesa de uma pluralidade de perspectivas históricas, contemplamos uma salada de teorias que nos permite identificar o quão complexo é pensarmos nosso país, mesmo com o tão falado fenômeno da globalização, da economia de mercado, da cultura de massas, etc. - que tanto anunciam uma homogenização dessa diversidade - continuamos buscando o Povo Brasileiro e percebendo o quão diverso ele é. Essa procura continua atual, mas cada vez menores nos parecem antigas bússolas, mapas ou quaisquer teorias ou métodos que se mostravam ou se propunham completamente satisfatórios, ou seja, capazes de esgotar as questões – o que provavelmente sempre será. Não temos um Brasil, temos Brasis.


Mas, não foram apenas os intelectuais que pensaram o Brasil: a arte também pensou o Brasil, tomando seu quinhão e formando representações de brasilidade: de 1930 para cá – provavelmente antes, mas me limito a falar superficialmente dessa data para cá – foram muitos os movimentos que buscaram pensar nossa nação: a Semana de Arte Moderna, O Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa, O Cinema Novo e a estética da fome de Glauber Rocha, a estética Nacional e Popular, a UNE e o CPC, O Tropicalismo: esses e outros movimentos pensaram o Brasil de alguma forma, contribuindo nunca definitivamente para conhecer e construir nossa brasilidade.


Os conflitos de tais discussões continuam sendo discutidos ainda hoje: arte pela arte x arte engajada; Independência artística do Brasil e Imperialismo/Colonialismo; a busca pela cultura popular e sua oposição a uma cultura de elite; crítica/validação de uma “cultura burguesa”, etc. Esses conflitos perpassam não apenas a arte, mas outros âmbitos, como a economia: o nacionalismo varguista, a ditadura varguista, o nacionalismo militar, a ditadura militar, o populismo de Lula, Vargas, Jango. Os projetos, as posições políticas, todos representaram inúmeros projetos de Brasil que buscaram dar fôlego a algo que tenta se consolidar dia a dia, mas que se mostra maior e mais complexo a cada minuto que passa.


Mas tentemos não nos deixar impressionar: essa complexidade, essa indefinibilidade, essa diversidade, não é monopólio, não é característica única de nosso país. Assim, também com crises de identidade, com tropeços e acertos, com bons e maus frutos, também caminha a humanidade e seu conhecimento produzido.


Suas filhas, mais velhas que nosso país, também vivem em constante autocrítica e nos divãs das universidades, das salas de aula de ensino médio e fundamental, no banco de uma praça, na sarjeta de um centro de cidade, na estrada, no sol tropical, nas chuvas torrenciais, no abafado da mata amazônica em qualquer lugar desse país – e fora dele também -, renovam-se a História, a Filosofia, as artes, a Sociologia, a Música, em síntese: os conhecimentos reconhecidamente disciplinares que buscam apreender homens e mulheres em permanente mutação. Todavia, tais homens e mulheres, mais que proferirem palavras – embora alguns até tentem reduzi-los a elas! - comem, amam, dormem, cantam, dançam, vivem sua humanidade na plenitude que sua existência, condições e ações lhes permitem.


Essa indefinibilidade não é estritamente brasileira – embora tenhamos problemáticas, sim, tupiniquins. Ela é Européia, é asiática, é americana, é terráquea - ela é humana. Os objetos, o conhecimento, o pensamento, e, principalmente, a forma de pensar, embora, muitas vezes, propunham-se assim, não são imutáveis - elas acompanham a humanidade. Assim, seja o Brasil ou o conhecimento, não podemos enjaulá-los em formas estáticas ou vê-los como um cubo que, sem podermos ver todas as faces de uma vez só, abstraímos o que nos é negado ver por uma totalidade imaginária. Devem ser renovados e reconstruídos sempre, mas sem negar seu passado! Não deixemos para trás aquilo que já foi dito, mas nos apropriemos do conhecimento acumulado durante milênios, inclusive buscando aqueles que tiveram sua voz vetada, escondida, enterrrada, silenciada. Ampliemo-los em todas as direções, temporal, espacial e epistemologicamente, de forma pertinente e plausível.


Buscar novos horizontes, requer extrapolar as limitações usuais do pensar e também as práticas da academia. Pensar, apenas, não basta: há que se debater, discutir, contrapor, relacionar o conhecimento de um com o do outro, cada agente com sua herança de experiências e leituras – centenas de homens e mulheres dentro de cada um, em um grupo, formando um verdadeiro exército. Fomentando e realizando práticas.


Nasce assim a Filosofia Carcará, nesse desejo intenso de discussão, dessa sede de conhecimento, de discussão, mas acima de tudo de levar esse debate a algum lugar, de comunicá-lo de ser um agente histórico consciente e mais efetivo de seu tempo. Do não consentimento com as limitações políticas que nossa furada democracia tenta maquilar em belos textos tão distantes da realidade. A tentativa de se equiparar a ave de rapina que do alto vê uma maior proporção da barbárie humana, alimentando-se de seus dejetos, voando livre, odiada por homens e mulheres, anunciando sua morte quando o seu cantar ecoa noturnamente sob casas do interior paraibano.


Procuramos esse novo pensar Brasil e o conhecimento, sob a angústia e incerteza de um pensamento que tanto pode anunciar a vida ou a morte da humanidade. A permanência ou a ruptura com a barbárie do capitalismo, a busca por novos horizontes de conhecimento, de afetividade, de vida: pois queremos um pensamento no e para o mundo, para um Brasil que queremos ver florescer em um jardim camaleão: que tem a ousadia de mudar suas cores conforme o tempo passa, uma obra de arte que se constrói todo dia.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Re-pensando os horizontes do CINEFAGIA

"O Neo-Realismo italiano e a Nouvelle Vague são possivelmente os movimentos mais importantes de revigoramento do cinema na segunda metade do século passado. Ambos são diretamente originários do cineclubismo, da organização do público com vistas à participação crítica no processo cinematográfico, que levou à contestação das formas estabelecidas e à proposição criativa de novas. A partir dessas duas correntes, em maior ou menor medida, e através também dos cineclubes e algumas outras formas de reunião de jovens e cinéfilos, multiplicaram-se pelo mundo vários outros movimentos, que criavam, afirmavam, reformavam os cinema nacionais. E, por sua vez, influenciavam o cinema mundial. Foi muito claramente o caso do Cinema Novo brasileiro, mas igualmente de uma onda latino-americana que hoje denominamos Nuevo Cine, impulsionada, além do nosso, principalmente pelos cinemas de Cuba, da Argentina e do México. Também aconteceu na Tchecoslováquia, na Polônia, na Hungria. Na África árabe, principalmente no Egito, afetando os países do Magreb, e ao sul, à medida que avançava a independência das ex-colônias européias, também o cinema africano negro dava seus primeiros passos, quase sempre a partir de grupos cineclubistas. O cinema asiático, por sua vez, praticamente desconhecido no “Ocidente”, passou a dialogar com o cinema mundial através da atividade dos cineclubes ." ( http://cineclubes.org.br/tiki/HIST%C3%93RIA+DO+CINECLUBISMO )

Esse texto faz uma boa retomada da história do cineclubismo, acho que é uma boa leitura inicial para a gente discutir as bases do que foi/é/ e o que queremos com um Cineclube - conseguindo horizontes mais de fundamentação mais consistentes do CINEFAGIA.

Essa citação já é de mais da metade a frente do texto, quando saído da década de 1920 o autor chega no Pós-Segunda Guerra Mundial chamando a atenção para esses dois movimentos cinemotográficos que são oriundos de uma cultura cineclubista e que renovaram o cinema mundial, lançando importantes influências ao Cinema Novo Brasileiro.

domingo, 9 de janeiro de 2011

"Você já foi ao Japão?"

Comentário à postagem redirecionada do "blogdopituco" ( http://blogdopituco.blogspot.com/2010/05/154.html ) no Blog do Itárcio ( http://blogdoitarcio.blogspot.com/2011/01/voce-ja-foi-ao-japao.html ):

Acho complicado colocar a questão como se isso tudo fosse apenas imposto pelo cinema e TV - quando há certo grau de legitimação da própria população que termina por se identificar com as propostas estéticas que lhes são apresentadas - e colocar tudo como modismo. Concordo que há certos aspectos preocupantes na juventude como a despolitização, o gosto pelo descartável e a fugacidade das relações tão característico de nossa sociedade atual. Mas também acho que às vezes é preconceituoso resumir as coisas a "modismos" quando ela foge de uma identificação dos valores aos quais nos identificamos. Para mim, a questão seria entender o porquê de se desenvolver tal cultura, por exemplo, no Japão: por que o tipo de música produzido lá é tão diferente e com vozes que, às vezes, soam-nos tão desarmoniosas? Por que o surgimento de tal estética de vestuário? Quais os malefícios que isso poderia gerar?
Acompanhava a "cultura pop" japonesa antes de entrar na universidade, e embora hoje tenha diversas críticas ao que se produz lá, acredito que há muito de incompreensão cultural dos brasileiros, em geral, quando se deparam com aquilo que circula lá.
Acredito que, colocando na oposição capitalismo/socialismo, uma real sociedade com socialização - dos meios de produção material, deveria garantir meios democráticos, inclusive, de produção cultural e permitir as pessoas fazerem opções que lhes dão prazer. Apesar de toda essa cultura estar ligada, evidentemente, a uma questão de mercado, o que nos faz garantir que as pessoas não poderiam optar por fazer algo parecido em outras condições? Me preocupa às vezes essas questões, afinal, foi muito difícil para a esquerda ultrapassar, inclusive, a estética do realismo-socialista, que teve seu momento fértil mas depois representou um entrave artístico para muitos artistas que eram praticamente obrigados a permanecer naquele tipo de produção por ser "engajada"; aqui no Brasil isso gerou um movimento que deu origem à fantástica produção do Cinema Novo e do Tropicalismo.
Em suma, uma sociedade mais igualitária deve ser buscada com respeito às diversidades, artísticas inclusive.