quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Adolescente criativo

Lendo O que é Adolescência de Daniel Becker (Brasiliense, 1986 – Coleção Primeiros Passos) me senti motivado a escrever o texto anterior e este.
Becker propõe uma visão da adolescência como um estágio de construção da individualidade e, conseqüentemente, questionamento das autoridades vigentes, em contraposição àquela idéia estereotipada e estabelecida do jovem-problema em crise da adolescência – que deveria, então, ser ignorada como algo natural e necessário a uma transformação, a passagem ao mundo adulto e não um momento de questionamento produtivo das estruturas sociais.
Adotando essa visão – que encaixa perfeitamente nas reflexões que fazia recentemente – quero problematizar um Adolescente Criativo, um momento importante e legítimo no crescimento do indivíduo, mas também capaz de apontar contradições no Sistema.
Deixando claro que falo do adolescente do Ocidente, visto que estudos antropológicos já demonstraram que existem outras formas de realizar essa passagem da infância para a vida adulta em outras sociedades. Sendo o homem fruto de seu contexto histórico, político e social tomo o adolescente ocidental como um instrumento de questionamento da sua sociedade, ou seja, a nossa. Suas crises e rebeldias não seriam uma crise a ser superada, mas meios de exprimir uma revolta contra problemas sociais que, eventualmente, ignoramos ao sermos coagidos a nos tornar mais e mais condicionados ao Sistema.

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É sabido que a adolescência – criação recente do homem moderno – é um período de transição entre a infância e o adulto. Nessa fase, caracterizada uma crise de identidade, procura-se novas identificações, novos modelos de comportamento, uma vez que os exemplos paternos já não lhe servem. Há uma ruptura entre a idealização dos pais e a consciência de um mundo externo, amplo, plural e, como seus pais, muitas vezes, autoritário. O jovem deixa de desejar o espaço de seus pais ou de se espelhar unicamente nessa imagem, para adotar novas perspectivas – quebra-se a autoridade absoluta da família.
Nesse instante onde a autoridade é tão contestada – seja a da família ou das outras instituições que os cercam – existe uma tendência a problematização do Sistema, seus instrumentos e métodos de exercer o poder, visto que há uma maior sensibilidade às contradições que lhe envolvem – uma vez que o jovem ainda não foi completamente condicionado pelas regras sociais.
Assim, o jovem representa um perigo a estrutura de dominação por questioná-la. E é do interesse dela colocá-lo como detentor de um discurso ilegítimo movido por uma rebeldia circunstancial, passageira e tendenciosa de uma fase transitória, ao invés de permitir a ele realizar qualquer mudança na estrutura estabelecida.
Na verdade, considero essa fase como um momento fértil e de investimento de um caráter crítico do indivíduo. Uma oportunidade de instigação desse espírito indagador. Essa figura nos ajudaria, então, a encontrar os problemas de nossa sociedade que resultam em um mal-estar geral sentido em todo lugar.
Concluindo, gostaria de acentuar a importância do aproveitamento desse potencial juvenil e a necessidade de mudança da abordagem que lhe é conferida, especialmente no âmbito educacional – assunto que pretendo abordar em um texto à parte.

Um comentário:

Anônimo disse...

Recomendo, para aqueles que desejam não só aprofundar o tema, mas ampliá-lo para além da questão, o livro A grande recusa, de Herbert Marcuse.

Abraço Amigo!