domingo, 22 de fevereiro de 2009

Hipocrisia, Homossexualidade e Educação (parte 01)

Um debate razoavelmente presente na vida do cidadão, hoje, é o da Diversidade Sexual. Mas, esse debate nem sempre é realizado com propriedade e sem preconceitos como as pessoas gostam de pintar. Esse é, ainda, um assunto muito delicado e polêmico o que por si só demonstra quão grande ainda permanece seu status de tabu.

Tomei conhecimento, esta semana, de dois casos que me chamaram a atenção, ambos em âmbito de formação estudantil.

Professor é demitido por apologia à Homossexualidade

O primeiro diz respeito ao caso provavelmente mais conhecido: Márcio Barrios, professor de 25 anos, homossexual, que mostrou a sua turma de alunos de 12 a 14 anos a música "I kissed a Girl" cuja letra fala de uma garota que beijou outra, sendo demitido por "apologia ao homossexualismo e ao álcool".


Segundo a escola, a canção foi vetada porque faz alusão a bebida alcoólica: "Eu fiquei tão corajosa com o drinque na mão/ Perdi minha discrição".

Já o professor diz que a chefia vetou a música pois a letra aborda a homossexualidade -a escola nega. O refrão diz: "Eu beijei uma garota e gostei/ Do gosto de seu batom de cereja".

"Para mim, disseram que não podia por causa do tema e que os pais poderiam reclamar", disse Barrios.


Há quem defenda que a demissão foi devido ao professor ter desrespeitado as orientações da coordenação do colégio. Além disso há o apoio da Secretária de Educação de Brasília à atitude tomada pela direção da escola na voz de José Valente:


"Reflete um comportamento inadequado e, portanto, acabou do jeito que acabou"


"Não interessa a opção de ninguém. Interessa que as pessoas que estão ali com a responsabilidade de educar os nossos jovens, os eduquem de acordo com a educação pedagógica da escola"


E o site Globo.com complementa: "A Secretaria de Educação apoiou a decisão da escola, pois considerou que se tratava de uma apologia do uso de álcool e do homossexualismo".

É interessante como na nossa sociedade o discurso se mantém muito aquém da realidade. Para mim é extremamente óbivio que houve descriminação seja da parte da coordenação do colégio ao da Secretária da Educação. Pior, houve abstenção do nosso governo quanto a um caso legítimo de conflito às recentes leis que protegem o homossexual.

Por outro lado, daí a afirmar - seja na voz do professor ou das fontes que o colocam com esse discurso - que utilizou a música apenas porque ela atendia às necessidades do conteúdo que eles trabalhavam naquele momento - verbos ingleses no passado -, não é verdade, mas sim uma forma do professor se defender da opressão que lhe é imposta. Ora, Márcio é homossexual e tentou fazer uma ponte, uma reflexão em sua aula sobre o tema da Diversidade Sexual através de sua aula. Considero essa atitude muito válida e corajosa, acredito que os textos utilizados na escola, de qualquer disciplina, devam ser utilizados, também, para suscitar debates e reflexões nos alunos. Aprendi muito apenas lendo os textos do livro que utilizava quando estudei inglês e quanto mais interessantes eram tais textos, mais sentia prazer em aprender inglês.

Quanto à apologia ao álcool, acho outro argumento sem verdadeiro fundamento. Apesar de não ter visto nenhum dos sites questionar essa parte do caso, considero que levar uma música que em um trecho fala de alguém que se sentiu corajoso após ingerir álcool não induzirá os alunos à utilizar àlcool tanto quanto diversas propagandas que existem por aí, fazendo alusão ao álcool ou ao exemplo que os mais velhos lhes dão. A escola deveria ter em seu seio essa discussão, quem melhor para discutir álcool e homossexualidade que um educador preparado? Sou contra essa política de fechar a escola em um mundo de debates que não correspondem às inquietudes do mundo real, que é o mundo que de fato vive o estudante.

Agora vem outra parte interessante do caso: o posicionamento da Secretária de Educação que, para mim, foi falho e demagogo em diversos prismas.

Temos um Estado que superficialmente tenta combater a homofobia, mas que na prática está reproduzindo ela. Apesar das leis que foram aprovadas, esse caso demonstra como um homossexual pode continuar sendo discriminado pelo próprio governo, apesar da legislação.
Se ele afirma que não importa a opção de ninguém, eu discordo. O homem é formado por todo seu conjunto, e a ORIENTAÇÃO sexual faz parte disso, e deve ser levada em conta sim, não sejamos hipócritas em achar que isso não influencia na vida do indivíduo. Além do que, o termo é orientação e não opção, as pessoas precisam entender de uma vez por todas que ser homossexual não é uma opção do indivíduo, mas algo inerente a ele. Dessa forma, quem sabe, algum dia a sociedade se liberte de seus preconceitos, achando que é safadeza ou doença.

A questão do álcool eu já coloquei aqui, mas cabe mais ou menos na próxima crítica que farei. Quando o Secretário de Educação fala que o professor deve fazer seu trabalho de acordo com a educação pedagógica da escola e que a função do professor é educar, para mim, ele entra em contradição, pois a política educacional da escola nem sempre, na maioria das vezes, corresponde a essa expectativa. Quando o professor levou corajosamente, mas sem álcool, a questão da homossexualidade e do álcool para a sala de aula, ele estava de fato fazendo seu papel de educador, o qual foi impedido pela escola e pelo governo que demonstraram ser extremamente homofóbicos e hipócritas.

O professor também ia à escola com cabelo colorido e roupas modernas, o que certamente devia causar impacto e discriminação - alguém pode até afirmar que não necessariamente, mas sabemos que isso funciona assim. Ele afirmou que já notava que isso gerava comentários, o que reforça que a atitude da escola foi homofóbica.

Fontes: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u505752.shtml
Outro site que utilizei foi o G1, mas não consegui mais voltar ao link da matéria.

Hipocrisia, Homossexualidade e Educação (parte 2)

Nesta segunda parte, ainda no eixo diversidade sexual e educação, abordo, a partir da leitura de um blog de um militante do Movimento Estudantil, Pedro Henrique Tavares, (ME) e de um caso de homofobia que ocorreu na USP.



Em uma festa promovida pelo CA de veterinária o estudante de letras Jarbas Rezende Lima, de 25 anos e seu amigo José Eduardo Góes, de 18 anos, foram expulsos agressivamente, sendo expostos e constrangidos a todos presentes (acenderam as luzes neles e pararam o som antes de colocá-los para fora).

O CA de veterinária afirmou que eles não estavam apenas se beijando, mas com carícias muito explícitas, motivo pelo qual foram expulsos.

Os estudantes prestaram queixa por constrangimento ilegal e lesão corporal na Decradi, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. O fato ocorreu em 29 de agosto de 2008, levando a uma manifestação entitulada de Beijaço que ocorreu no dia 31 do mesmo mês.

É na dicotomia discurso-realidade que podemos identificar como o preconceito está realmente presente no nosso cotidiano. Muitos poderão justificar a atitude do CA de veterinária em um exagero dos dois estudantes. Mas, nunca ouvi falar nem vi, algum casal heterossexual ser exposto ao ridículo ou expulso de algum lugar por estarem com carícias quentes. Não nos dias de hoje e em festa de jovens. Mesmo que eles afirmem que em outras festas gays se beijavam na pista de dança, isso não justifica o que fizeram.

O que chama a atenção nesse caso é a discriminação ter vindo do próprio movimento estudantil. Alguém pode até chamar a atenção para que isso não seja uma atitude necessariamente discriminatória ao homossexual, mas que poderia ocorrer a qualquer um, porém, se se abre espaço para tal afirmação é porque os homossexuais sofrem grande opressão na sociedade. E é estarrecedor saber que tem gente, sim, que acredita que os homossexuais usem a discriminação como artifício para "justificar seus erros" ou que não há preconceito contra eles.

Vale ressaltar que aqui em João Pessoa, ocorreu um caso parecido, quando o estudante de pedagogia Alcemir Freire e seu namorado foram discriminados por uma servidora pública que os chamou de "Anormais e safados", afirmando que "lugar de veado é na mata", gerando, também, uma manifestação de mesmo nome, que ocorreu no hall da reitoria em 04 d edezembro de 2008.

Por isso afirmo que os homossexuais tem, sim, que ocupar mais espaços e levar as discussões sobre diversidade sexual em todas as instituições possíveis, especialmente na família e escola.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

"O vídeo a seguir é uma consistente e incômoda lição de como funciona a sociedade de consumo em que nós vivemos, suas condicionantes, implicações e limites." (Ramon, 12/12/2008, http://cadernospublicospessoais.zip.net)

Arco-Íris Híbrido

Hoje, navegando pela internet, resolvi recolocar meu antigo web site no orkut, datado de 2004. Daí, olhando o que tinha lá, encontrei um texto daquela época (09/11/04) que fiz baseado em uma música dos The Pillows: Hybrid Rainbow.

Segue o texto e comentário.


Arco-íris Híbrido

A cidade parece um grande gibi. Vou folheando suas ruas vendo inúmeras cenas. Uma mulher atravessar a rua com seu filho, um garotinho jogando futebol. Mas passando assim rapidamente, observando do lado de dentro dessa janela tudo parece monocromático. Há vida nisso tudo, mas atrás desse vidro se apaga, e mesmo que daqui eu possa assistir a todo esse roteiro de acontecimentos, nada se compara a participar desse grande espetáculo. Como um arco-íris híbrido, uma mistura de todos esses sentimentos, de pessoas, vozes e cores. Mas está tudo tão distante, tão sem cor, tão mecânico.

Qual será a vantagem de saber a verdade do mundo se na realidade não participo dele? Que riquezas possuo sabendo a origem do mar, o futuro de seus peixes, de onde acabarão as montanhas ou até mesmo o futuro de toda a humanidade, se não faço parte disso tudo? É como um filme rodando na minha frente sem pretensão de acabar, afinal, sendo o universo eterno, como um ciclo que vai e vem, e eu como seu único espectador, que assiste toda essa reprise por bilhares de anos, mesmo que os personagens nunca sejam completamente iguais, ainda assim não posso tocar no que vejo, sentir o que sentem, sofrer o que suas lágrimas rolam, rir seus sorrisos, sentir ternura em um abraço que nunca poderei dar.

Ah sim! Mas é mesmo belo todo este arco-íris, mesmo daqui monocromático, ainda assim posso sentir suas cores. Como é lindo esse arco-íris híbrido.

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Fiz apenas uma pequena alteração (fiz um novo parágrafo no final). Lembro que a idéia do texto surgiu de uma imagem na minha cabeça, quando andava de carro, sentindo-me aquém do que se desenrolava lá fora.
Imaginei assim, Deus: em seu carro do tempo, passando por nós, vendo nossas histórias, mas sem interferir nas nossas vidas (na minha concepção do ideário judaico-cristão da época).
Lembro também, que durante algum tempo tive muito desejo de me tornar um escritor. Pretendia ler muito e escrever mais ainda. Mas, sempre que me aproximo da escrita, vejo que não é algo simples. Sinto-me distante desse "sonho". E lendo esse texto, noto que não mudei muito em relação a "produção textual", em imaginação, ou sei lá o quê, talvez ainda esteja com um pé em 2004..

De qualquer forma, acho mesmo muito bonito quem escreve, ou melhor, a literatura.

Aproveitando o ensejo, vou indicar o blog do Harrison - compa do curso de História - cujos textos achei interessantes. [ http://dimorf.blogspot.com/ ]

Em seguida o endereço do meu antigo site e do link de onde peguei meu velho texto.

http://br.geocities.com/last_senshi/

http://br.geocities.com/last_senshi/blog/blog01-texto02.htm